segunda-feira, dezembro 05, 2005

Alta Arte
O Jardineiro Fiel



Uma forte denúncia, ainda que ficcionada, contra o poder da indústria farmacêutica e contra a corrupção nos países africanos, é verdade. Mas "O Fiel Jardineiro" vale mais pela forma como é feito. Filmagem ousada, com ritmo, uma narrativa que brinca com o espectador, fazendo-o ver as coisas de uma forma para mais tarde confrontá-lo com o equívoco. Um paralelo bem conseguido com a dúvida que vai na cabeça do próprio protagonista.

Delicioso detectar o toque pessoal que Fernando Meirelles dá aos seus filmes, fazendo lembrar o seu anterior "Cidade de Deus". Do Rio de Janeiro para o Quénia - está lá o povo, está lá a miséria, está lá a dor, e também o colorido, as batucadas e as galinhas fugitivas. Meirelles parece querer ser uma espécie de Sebastião Salgado do cinema.

Quem pensava que "Cidade de Deus" estava para Fernando Meirelles, como "Pulp Fiction" está para Quentin Tarantino - ou seja, a obra-prima prematura que ofusca tudo o que se lhe segue - enganou-se. O mais recente filme do brasileiro, baseado no livro de John le Carré, surpreende pela positiva e confirma que Meirelles está pronto para se assumir como um dos grandes cineastas da actualidade. Este é um dos grandes filmes do ano.

Nota: *****