And now...
... Notas da Nova Albion
2. Cristiano Ronaldo
O Manchester United é líder na Premier League, graças à vitória sobre o Everton (3-2). Um dos jogadores em destaque nessa partida foi o português Cristiano Ronaldo. A equipa deposita grandes esperanças neste jovem de apenas 18 anos, apesar de não ter vindo a aproveitar da melhor forma a maior parte das oportunidades que lhe têm sido dadas este ano. Com um jogo marcadamente individualista, Ronaldo precisa ainda desenvolver o sentido colectivo que o futebol moderno exige. Se os seus passes atingirem um dia metade da qualidade das fintas, já não era nada mau.
Mas esta jornada, as coisas correram bem. Hoje comprei o The Independent e o título da crónica de jogo atestava isso mesmo: "Ronaldo mantém United no topo". A exibição do português foi muito saudada nesse jornal, que passo a citar:
"O United (...) arrancou finalmente uma performance de Cristiano Ronaldo, que restaurou em parte uma reputação que sofreu com muitos dias maus. O 'júri' está ainda a avaliar o jovem de 18 anos, que às vazes parece um sôfrego número de circo, com as suas fintas gratuitas e sobre-elaboradas. Mas quando o cérebro engrena, a sua habilidade para rasgar espaço com os seus pés-relâmpago pode abrir a mais parcimoniosa defesa.
"Ele fez alguns jogos fantásticos, especialmente contra o Charlton, no início da época", disse (o treinador Alex) Ferguson. "Hoje ele foi maravilhoso". Gary Neville, capitão do United foi ainda mais entusiástico. "Ele foi brilhante, um perigo constante", disse. "Ele quer a bola o tempo todo, e não importa o que ele faça, se perde a bola ou sofre falta, ele volta para mais. É um jogador bravo em todos os sentidos".
A primeira parte pertenceu a Kleberson; a segunda foi de Ronaldo e o jogo girou à sua volta. Os seus dribles proporcionaram a (Wayne) Rooney a sua única intervenção de registo no jogo - a sua admoestação - antes de devastar completamente Tony Hibbert e entregar um cruzamento que merecia melhor do que a cabeçada esbanjadora de Bellion sobre a barra. Qualquer um que tenha prestado atenção a Ronaldo pode atestar da sua disponibilidade e perseverança, que deram frutos aos 67 minutos. Ele deslizou uma vez mais sobre a investida de Hibbert e desta vez cruzou ao primeiro poste, onde Bellion apareceu a colocar a bola no fundo da rede."
domingo, dezembro 28, 2003
quarta-feira, dezembro 24, 2003
And now…
… Notas da Nova Albion
1. Louis Theroux
O gajo é louco, não há dúvida. Faz uns documentários para a BBC sobre realidades sociais delicadas, mas com um estilo algo satírico, recheado de ironia. Uma espécie de Michael Moore britânico. Entrar numa casa de skin-heads e começar a provocá-los com perguntas como "Seria um problema para vocês se eu fosse um judeu?" ou "Considera-se realmente mais atraente do que Denzel Washington?" não é para qualquer um. Theroux fez isso no episódio desta semana "Louis and the Nazis", em que foi até à Califórnia para entrevistar alguns dos mais famosos neo-nazis na América, incluindo Tom Metzger e April Gaede.
A estratégia dele é sempre a mesma. Entra de forma amigável e põe os indivíduos a falar aberta e orgulhosamente sobre as suas convicções, de repente começa a picá-los, a confrontá-los com as suas contradições. O resultado é invariavelmente despertar a ira e terminar odiado pelas pessoas que entrevista. Theroux perde descaradamente a isenção quando resolve atirar a uma mãe que confessa estar a incutir o racismo nas suas filhas: "Já pensou em procurar ajuda médica, tartar-se com um psiquiatra?"; e mais ainda quando afirma abertamente: "Você está errada. A civilização moderna está do meu lado". Consegue, de facto, bons programas de televisão, pela sua ousadia, mas desperdiça talvez a oportunidade de fazer bons documentários.
Mas, quem gosta do estilo, pode facilmente encontrar em vídeo ou DVD os programas da série que o celebrizou, "Weird Weekends", ou ir a um bom site para saber um pouco mais.
… Notas da Nova Albion
1. Louis Theroux
O gajo é louco, não há dúvida. Faz uns documentários para a BBC sobre realidades sociais delicadas, mas com um estilo algo satírico, recheado de ironia. Uma espécie de Michael Moore britânico. Entrar numa casa de skin-heads e começar a provocá-los com perguntas como "Seria um problema para vocês se eu fosse um judeu?" ou "Considera-se realmente mais atraente do que Denzel Washington?" não é para qualquer um. Theroux fez isso no episódio desta semana "Louis and the Nazis", em que foi até à Califórnia para entrevistar alguns dos mais famosos neo-nazis na América, incluindo Tom Metzger e April Gaede.
A estratégia dele é sempre a mesma. Entra de forma amigável e põe os indivíduos a falar aberta e orgulhosamente sobre as suas convicções, de repente começa a picá-los, a confrontá-los com as suas contradições. O resultado é invariavelmente despertar a ira e terminar odiado pelas pessoas que entrevista. Theroux perde descaradamente a isenção quando resolve atirar a uma mãe que confessa estar a incutir o racismo nas suas filhas: "Já pensou em procurar ajuda médica, tartar-se com um psiquiatra?"; e mais ainda quando afirma abertamente: "Você está errada. A civilização moderna está do meu lado". Consegue, de facto, bons programas de televisão, pela sua ousadia, mas desperdiça talvez a oportunidade de fazer bons documentários.
Mas, quem gosta do estilo, pode facilmente encontrar em vídeo ou DVD os programas da série que o celebrizou, "Weird Weekends", ou ir a um bom site para saber um pouco mais.
domingo, dezembro 21, 2003
A vida sexual dos ingleses é como o Mundial de futebol: acontece só de quatro em quatro anos e o resultado quase nunca é satisfatório.
quinta-feira, dezembro 18, 2003
lá lá lá
Precisando ir a Viseu, e com boleia garantida para o regresso a Aveiro, meti-me num autocarro. A minha ideia era ir a ler o jornal durante a hora e pouco de viagem, mas houve obstáculos à minha concentração. Ei-los:
"Thank god is christmas, lá lá lá lá lá lá......"
"Last christmas, i gave you my hart, and the very next day" etc etc etc
...
...
...
Foi hora e meia com o rádio ligado a passar música de elevador, e o que é pior, música de elevador de Natal.
Precisando ir a Viseu, e com boleia garantida para o regresso a Aveiro, meti-me num autocarro. A minha ideia era ir a ler o jornal durante a hora e pouco de viagem, mas houve obstáculos à minha concentração. Ei-los:
"Thank god is christmas, lá lá lá lá lá lá......"
"Last christmas, i gave you my hart, and the very next day" etc etc etc
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Foi hora e meia com o rádio ligado a passar música de elevador, e o que é pior, música de elevador de Natal.
Grande Nick
Experimentem ver um filme com o Nick Nolte sem legendas. Vi ontem o The Good Thief, do Neil Jordan, num DVD não legendado. "Bugtr mnumn iumn shutremnhb vde bamnmnmn umm Monte Carlo" é o que se percebe do Nick Nolte. Os outros personagens são franceses e argelinos a falar em inglês e também não se percebe muito bem o que dizem. O filme parece bom... mas não posso garantir!
Experimentem ver um filme com o Nick Nolte sem legendas. Vi ontem o The Good Thief, do Neil Jordan, num DVD não legendado. "Bugtr mnumn iumn shutremnhb vde bamnmnmn umm Monte Carlo" é o que se percebe do Nick Nolte. Os outros personagens são franceses e argelinos a falar em inglês e também não se percebe muito bem o que dizem. O filme parece bom... mas não posso garantir!
terça-feira, dezembro 16, 2003
Tanto para ensinar ao mundo
Cheguei hoje a Londres e comecei logo a sentir saudades do nosso mal-amado Portugal, país que muitos classificam injustamente de terceiro-mundista. Isto porque, na estação de comboios de Kings Cross, perdi o comboio para Ely que partia às 13h00, só porque cheguei à plataforma respectiva às 13h05, o que me obrigou a esperar 40 longos minutos pelo comboio seguinte.
Nunca é demais sublinhar - e atirar à cara desses profetas da desgraça que só sabem dizer mal do país - que essa situação teria sido evitada se a CP administrasse os comboios ingleses. Nesta companhia tão criticada, mas que é na verdade um exemplo para qualquer país evoluído, o comboio das 13h00 nunca parte antes das 13h20, evitando assim correrias e tempos de espera desnecessários.
Cheguei hoje a Londres e comecei logo a sentir saudades do nosso mal-amado Portugal, país que muitos classificam injustamente de terceiro-mundista. Isto porque, na estação de comboios de Kings Cross, perdi o comboio para Ely que partia às 13h00, só porque cheguei à plataforma respectiva às 13h05, o que me obrigou a esperar 40 longos minutos pelo comboio seguinte.
Nunca é demais sublinhar - e atirar à cara desses profetas da desgraça que só sabem dizer mal do país - que essa situação teria sido evitada se a CP administrasse os comboios ingleses. Nesta companhia tão criticada, mas que é na verdade um exemplo para qualquer país evoluído, o comboio das 13h00 nunca parte antes das 13h20, evitando assim correrias e tempos de espera desnecessários.
sexta-feira, dezembro 12, 2003
quarta-feira, dezembro 10, 2003
De onde é que eu sou
A interrogação mais difícil que alguém que acaba de me conhecer pode fazer: "és de onde?" E como me fazem essa pergunta! Basta ouvirem um minutinho da miscelânea que é o meu sotaque. "És de onde?" É certinho.
Como responder a isto? Para a maior parte das pessoas é fácil. Mas eu, bem... a verdade é que não minto se disser que sou de Angola. Foi lá que nasci e, embora fosse ainda um bebé quando em 1975 a minha família foi forçada a deixar o país - por razões sobre as quais não reza esta crónica - meus pais fizeram questão de me incutir uma forma de estar na vida definitivamente africana. Tenho gindungo no sangue, diria.
Passei toda a minha infância e parte da adolescência no Brasil, até aos 15 anos. Foi ali que me formei como pessoa, onde aprendi aquilo que era importante na vida, onde tive os meus primeiros amigos, os meus primeiros amores. Impossível negá-lo: sou brasileiro. "Onde é que viveste no Brasil?" é a segunda pergunta mais difícil que me podem fazer. É que meu pai, por motivos profissionais, estava sempre a mudar de cidade, e nós com ele. Passámos pelo Rio de Janeiro, São Paulo (onde nasceu a minha primeira irmã), Belo Horizonte, Mococa, Ribeirão Preto (onde nasceu a minha segunda irmã), e até estivemos cinco anos na Amazónia - ainda hoje ecoam na minha memória as grasnadas dos bandos de tucanos e araras que pairavam sobre a selva cheirosa ao fim da tarde.
Desde muito cedo, habituei-me à ideia de que, por onde quer que passasse, não era dali, embora isso, para mim, tivesse pouco significado. A verdade é que os termos aprendidos em casa com os meus pais valeram-me, entre os meus amiguinhos, a alcunha de "português", que eu aceitava com muito orgulho. O que me arrancou às terras de Veracruz foi algo de muito forte. Grande parte da família estava em Portugal. Mais do que aquilo que busca a maior parte dos emigrantes, pois nunca passámos por dificuldades no Brasil, o que nos trouxe, em 1990, para solo lusitano foi o apelo das nossas raízes, profundamente cravadas no Algarve: meus avós são todos de Portimão. Quatro anos nessa cidade chegaram para assimilar algo da maneira de falar da província mais meridional do país, o suficiente para confundir quem quer que tentasse adivinhar a minha origem.
Isso foi posto à prova com êxito em Coimbra, durante os quatro anos do curso de Jornalismo, anos vividos com muita intensidade, em que me formei profissionalmente, em que conheci aqueles que são hoje os meus melhores amigos, em que encontrei o maior amor da minha vida. Voltar à "Lusa Atenas" terá sempre para mim um sabor muito especial.
Algo semelhante sinto ao voltar à Finlândia, onde estudei um ano no programa Erasmus, experiência também muito intensa, que me ensinou muito sobre o ser humano, e onde aprendi que a comunicação por vezes se realiza por formas inesperadas, que transcendem a língua, e percebi que a minha pátria pode ser qualquer uma que me aceite como cidadão e me dê condições de vida justas. Ali conheci um povo fascinante, que se organiza na base do respeito mútuo e da honestidade, um modelo de país no qual sonho viver um dia.
Hoje estou em Lisboa, onde me iniciei profissionalmente há já quatro anos, e onde tenho conhecido pessoas extraordinárias (e outras "extra ordinárias") e alguns verdadeiros amigos. É aqui que me estou, aos poucos, a estabelecer e, num certo sentido, já me sinto também um pouco lisboeta.
Dada a importância que esses sítios tiveram para fazer de mim aquilo que sou hoje, acho que a única maneira de responder de forma honesta e abrangente à pergunta do início deste texto é: "sou desses lugares todos e de todos aqueles por que irei passar".
"As Identidades Assassinas"
A respeito disto, Amin Maalouf, escritor francês nascido no Líbano, autor do livro "As Identidades Assassinas", explica de forma muito aproximada aquilo que gostaria de dizer sempre que me perguntam o que sou:
«Desde que deixei o Líbano, em 1976, para me instalar em França, perguntam-me inúmeras vezes, com as melhores intenções do mundo, se me sinto "mais francês" ou "mais libanês". Respondo invariavelmente: "um e outro!" Não por qualquer desejo de equilíbrio ou equidade, mas porque, se respondesse de outro modo, estaria a mentir. Aquilo que faz que eu seja eu e não outrem é o facto de me encontrar na ombreira de dois países, de duas ou três línguas, de várias tradições culturais. É isso precisamente que define a minha identidade. Tornar-me-ia mais autêntico se amputasse uma parte de mim mesmo?
(...) Metade francês e metade libanês? De modo algum! A identidade não se compartimenta, não se reparte em metades, nem em terços, nem se delimita em margens fechadas. Não tenho várias identidades, tenho apenas uma, feita de todos os elementos que a moldaram, segundo uma "dosagem" particular que nunca é a mesma de pessoa para pessoa.
(...) Quando perguntam o que sou "bem no fundo de mim mesmo", isso pressupõe que existe "bem no fundo" de cada um de nós, uma única pertença que conta, uma espécie de "verdade profunda" de cada um, a sua "essência", determinada de uma vez por todas à nascença e que nunca se alterará; como se o resto, todo o resto - a sua trajectória de homem livre, as convicções adquiridas, a sua sensibilidade própria, as suas afinidades, a sua vida, em suma -, não contasse para nada.»
Nesse livro, Maalouf parte do seu caso particular para elaborar um brilhante ensaio, em que ridiculariza a loucura colectiva que, todos os dias, e por todo o mundo, leva os homens a matarem-se em nome da sua "identidade". «Quando se incita os nossos contemporâneos a "afirmarem a sua identidade", como tão frequentemente se faz hoje em dia, o que se lhes diz desse modo é que devem reencontrar no seu íntimo essa pretendida pertença fundamental, muitas vezes religiosa ou nacional, racial ou étnica, e brandi-la orgulhosamente na cara dos outros. (...) por toda a parte se faz sentir a necessidade de uma reflexão serena e global sobre a melhor maneira de domesticar a besta identitária».
A interrogação mais difícil que alguém que acaba de me conhecer pode fazer: "és de onde?" E como me fazem essa pergunta! Basta ouvirem um minutinho da miscelânea que é o meu sotaque. "És de onde?" É certinho.
Como responder a isto? Para a maior parte das pessoas é fácil. Mas eu, bem... a verdade é que não minto se disser que sou de Angola. Foi lá que nasci e, embora fosse ainda um bebé quando em 1975 a minha família foi forçada a deixar o país - por razões sobre as quais não reza esta crónica - meus pais fizeram questão de me incutir uma forma de estar na vida definitivamente africana. Tenho gindungo no sangue, diria.
Passei toda a minha infância e parte da adolescência no Brasil, até aos 15 anos. Foi ali que me formei como pessoa, onde aprendi aquilo que era importante na vida, onde tive os meus primeiros amigos, os meus primeiros amores. Impossível negá-lo: sou brasileiro. "Onde é que viveste no Brasil?" é a segunda pergunta mais difícil que me podem fazer. É que meu pai, por motivos profissionais, estava sempre a mudar de cidade, e nós com ele. Passámos pelo Rio de Janeiro, São Paulo (onde nasceu a minha primeira irmã), Belo Horizonte, Mococa, Ribeirão Preto (onde nasceu a minha segunda irmã), e até estivemos cinco anos na Amazónia - ainda hoje ecoam na minha memória as grasnadas dos bandos de tucanos e araras que pairavam sobre a selva cheirosa ao fim da tarde.
Desde muito cedo, habituei-me à ideia de que, por onde quer que passasse, não era dali, embora isso, para mim, tivesse pouco significado. A verdade é que os termos aprendidos em casa com os meus pais valeram-me, entre os meus amiguinhos, a alcunha de "português", que eu aceitava com muito orgulho. O que me arrancou às terras de Veracruz foi algo de muito forte. Grande parte da família estava em Portugal. Mais do que aquilo que busca a maior parte dos emigrantes, pois nunca passámos por dificuldades no Brasil, o que nos trouxe, em 1990, para solo lusitano foi o apelo das nossas raízes, profundamente cravadas no Algarve: meus avós são todos de Portimão. Quatro anos nessa cidade chegaram para assimilar algo da maneira de falar da província mais meridional do país, o suficiente para confundir quem quer que tentasse adivinhar a minha origem.
Isso foi posto à prova com êxito em Coimbra, durante os quatro anos do curso de Jornalismo, anos vividos com muita intensidade, em que me formei profissionalmente, em que conheci aqueles que são hoje os meus melhores amigos, em que encontrei o maior amor da minha vida. Voltar à "Lusa Atenas" terá sempre para mim um sabor muito especial.
Algo semelhante sinto ao voltar à Finlândia, onde estudei um ano no programa Erasmus, experiência também muito intensa, que me ensinou muito sobre o ser humano, e onde aprendi que a comunicação por vezes se realiza por formas inesperadas, que transcendem a língua, e percebi que a minha pátria pode ser qualquer uma que me aceite como cidadão e me dê condições de vida justas. Ali conheci um povo fascinante, que se organiza na base do respeito mútuo e da honestidade, um modelo de país no qual sonho viver um dia.
Hoje estou em Lisboa, onde me iniciei profissionalmente há já quatro anos, e onde tenho conhecido pessoas extraordinárias (e outras "extra ordinárias") e alguns verdadeiros amigos. É aqui que me estou, aos poucos, a estabelecer e, num certo sentido, já me sinto também um pouco lisboeta.
Dada a importância que esses sítios tiveram para fazer de mim aquilo que sou hoje, acho que a única maneira de responder de forma honesta e abrangente à pergunta do início deste texto é: "sou desses lugares todos e de todos aqueles por que irei passar".
"As Identidades Assassinas"
A respeito disto, Amin Maalouf, escritor francês nascido no Líbano, autor do livro "As Identidades Assassinas", explica de forma muito aproximada aquilo que gostaria de dizer sempre que me perguntam o que sou:
«Desde que deixei o Líbano, em 1976, para me instalar em França, perguntam-me inúmeras vezes, com as melhores intenções do mundo, se me sinto "mais francês" ou "mais libanês". Respondo invariavelmente: "um e outro!" Não por qualquer desejo de equilíbrio ou equidade, mas porque, se respondesse de outro modo, estaria a mentir. Aquilo que faz que eu seja eu e não outrem é o facto de me encontrar na ombreira de dois países, de duas ou três línguas, de várias tradições culturais. É isso precisamente que define a minha identidade. Tornar-me-ia mais autêntico se amputasse uma parte de mim mesmo?
(...) Metade francês e metade libanês? De modo algum! A identidade não se compartimenta, não se reparte em metades, nem em terços, nem se delimita em margens fechadas. Não tenho várias identidades, tenho apenas uma, feita de todos os elementos que a moldaram, segundo uma "dosagem" particular que nunca é a mesma de pessoa para pessoa.
(...) Quando perguntam o que sou "bem no fundo de mim mesmo", isso pressupõe que existe "bem no fundo" de cada um de nós, uma única pertença que conta, uma espécie de "verdade profunda" de cada um, a sua "essência", determinada de uma vez por todas à nascença e que nunca se alterará; como se o resto, todo o resto - a sua trajectória de homem livre, as convicções adquiridas, a sua sensibilidade própria, as suas afinidades, a sua vida, em suma -, não contasse para nada.»
Nesse livro, Maalouf parte do seu caso particular para elaborar um brilhante ensaio, em que ridiculariza a loucura colectiva que, todos os dias, e por todo o mundo, leva os homens a matarem-se em nome da sua "identidade". «Quando se incita os nossos contemporâneos a "afirmarem a sua identidade", como tão frequentemente se faz hoje em dia, o que se lhes diz desse modo é que devem reencontrar no seu íntimo essa pretendida pertença fundamental, muitas vezes religiosa ou nacional, racial ou étnica, e brandi-la orgulhosamente na cara dos outros. (...) por toda a parte se faz sentir a necessidade de uma reflexão serena e global sobre a melhor maneira de domesticar a besta identitária».
sexta-feira, dezembro 05, 2003
Estava aqui a pensar...
Amnésia é um gajo não se lembrar do que é o clítoris, depois de ter estado várias vezes com a resposta na ponta da língua.
Amnésia é um gajo não se lembrar do que é o clítoris, depois de ter estado várias vezes com a resposta na ponta da língua.
quinta-feira, dezembro 04, 2003
Pastéis de vento
pérolas da sabedoria zen
Nada é impossível para uma mente disposta. Excepto fazer descolar um avião da Yes.
pérolas da sabedoria zen
Nada é impossível para uma mente disposta. Excepto fazer descolar um avião da Yes.
terça-feira, dezembro 02, 2003
Estava aqui a pensar...
Em Inglaterra, quem conduz o carro é o passageiro.
Em Inglaterra, quem conduz o carro é o passageiro.