Futebolês
Estava ontem a ver o Valência-Real Madrid na SportTV, quando um dos comentadores, cujo nome prefiro até nem saber, disparou esta: "nenhum dos jogadores que estão em campo tem uma amplitude de movimento técnico como o Zidane." Ora, isto é grave. Anda um sujeito a ganhar o dinheiro que eu pago de assinatura para dizer alarvidades destas, como que a rir da minha cara. Mas o que é mesmo grave é que... tenho a impressão de, no fundo, ter percebido o que ele disse. Quer dizer, quando mesmo com uma terminologia tão imbecil a comunicação faz-se, pode considerar-se haver razão para preocupação. É nestas alturas que faz falta um herói, que nos livre desta mediocridade. Por isso, quero aqui deixar um apelo: volta, Gabriel Alves! Salva-nos disto! Por amor ao miolo!
quinta-feira, janeiro 29, 2004
terça-feira, janeiro 27, 2004
Grande notícia
Santarém, 27 Jan (Lusa) - A PSP de Santarém anunciou hoje
a detenção de um homem de 50 anos que conduzia uma carroça
alcoolizado e que embateu numa viatura.
Segundo fonte da PSP, o homem, que apresentava uma taxa de
alcoolemia de 2,20 gramas por litro, foi constituído arguido e
presente a tribunal, aguardando a decisão judicial.
A detenção ocorreu cerca das 17:00 de segunda-feira na
estrada que liga a Ribeira de Santarém a Alcanhões, na sequência
da queixa apresentada por uma condutora, em cuja viatura o homem
embateu com a carroça, pondo-se em fuga.
O homem vive num acampamento na Ribeira de Santarém e a
carroça, puxada por um burro, foi entregue à família.
Santarém, 27 Jan (Lusa) - A PSP de Santarém anunciou hoje
a detenção de um homem de 50 anos que conduzia uma carroça
alcoolizado e que embateu numa viatura.
Segundo fonte da PSP, o homem, que apresentava uma taxa de
alcoolemia de 2,20 gramas por litro, foi constituído arguido e
presente a tribunal, aguardando a decisão judicial.
A detenção ocorreu cerca das 17:00 de segunda-feira na
estrada que liga a Ribeira de Santarém a Alcanhões, na sequência
da queixa apresentada por uma condutora, em cuja viatura o homem
embateu com a carroça, pondo-se em fuga.
O homem vive num acampamento na Ribeira de Santarém e a
carroça, puxada por um burro, foi entregue à família.
Eis que chegam os primeiros concorrentes
Já começaram a chover candidatos ao Grande Concurso de Reflectoporno do Núcleo Duro, que lançámos há umas semanas atrás. Lembramos que as inscrições continuam abertas e que serão os nossos próprios leitores a escolherem os vencedores. Quem quiser participar, é só enviar as suas fotos para nduro@mail.pt.
Foto 1
Márcia Oliveira, de Moscavide
Foto 2
Carlos Santos, de Valongo
Foto 3
Paulo Ferreira, do Barreiro
O vencedor será escolhido pelos nossos leitores. Para votar, basta mandar um mail aqui para o Núcleo, indicando qual a foto escolhida.
Já começaram a chover candidatos ao Grande Concurso de Reflectoporno do Núcleo Duro, que lançámos há umas semanas atrás. Lembramos que as inscrições continuam abertas e que serão os nossos próprios leitores a escolherem os vencedores. Quem quiser participar, é só enviar as suas fotos para nduro@mail.pt.
Foto 1
Márcia Oliveira, de Moscavide
Foto 2
Carlos Santos, de Valongo
Foto 3
Paulo Ferreira, do Barreiro
O vencedor será escolhido pelos nossos leitores. Para votar, basta mandar um mail aqui para o Núcleo, indicando qual a foto escolhida.
quarta-feira, janeiro 21, 2004
Os donos do garfo
Nome: Sakura
Localização: Matosinhos
Tipo: cozinha oriental, sobretudo japonesa
Preço: não demasiado caro
Considerações: altamente recomendável
Ver crítica no Público
Nome: Sakura
Localização: Matosinhos
Tipo: cozinha oriental, sobretudo japonesa
Preço: não demasiado caro
Considerações: altamente recomendável
Ver crítica no Público
terça-feira, janeiro 20, 2004
Alta Arte
Simon and Garfunkel – concerto no Central Park (1981)
O concerto é memorável. Conhecia-o por tê-lo ouvido na infância em vinil e, anos mais tarde, em CD. Agora comprei o DVD. É estranho ver o concerto e não apenas ouvi-lo. No disco e no CD não nos apercebemos de como parecia abalada a cumplicidade entre Simon e Garfunkel. Garfunkel parece tentar, ao logo do espectáculo, promover essa cumplicidade, olhando com insistência para o Simon, que porém se mostra alheio ao companheiro. Mesmo os abraços que trocam no final são praticamente inexpressivos, a afectividade parece ausente.
Mas o concerto é perfeito – dois grandes cantores, um grupo de grandes músicos, músicas inesquecíveis, milhares de pessoas no Central Park... Quando for famoso e um jornal me perguntar, num daqueles inquéritos de Verão, que álbum levaria para uma ilha deserta, não hesitarei: Simon and Garfunkel.
Simon and Garfunkel – concerto no Central Park (1981)
O concerto é memorável. Conhecia-o por tê-lo ouvido na infância em vinil e, anos mais tarde, em CD. Agora comprei o DVD. É estranho ver o concerto e não apenas ouvi-lo. No disco e no CD não nos apercebemos de como parecia abalada a cumplicidade entre Simon e Garfunkel. Garfunkel parece tentar, ao logo do espectáculo, promover essa cumplicidade, olhando com insistência para o Simon, que porém se mostra alheio ao companheiro. Mesmo os abraços que trocam no final são praticamente inexpressivos, a afectividade parece ausente.
Mas o concerto é perfeito – dois grandes cantores, um grupo de grandes músicos, músicas inesquecíveis, milhares de pessoas no Central Park... Quando for famoso e um jornal me perguntar, num daqueles inquéritos de Verão, que álbum levaria para uma ilha deserta, não hesitarei: Simon and Garfunkel.
terça-feira, janeiro 13, 2004
Michael Moore IV — A vingança das mamonas empertigadas
Querido DJ, os livros (e o filme) do Moore não contêm apenas algumas incorrecções. Não se trata de uns desleixos com umas contas; trata-se de sistemática desonestidade intelectual. O homem diz mentiras, e sabe que está a dizer mentiras.
Na extrema esquerda americana há quem ache isso muito bem. A lógica é: se há comentadores repugnantes de direita (Rush Limbaugh, Ann Coulter, Sean Hannity — a sorte que vocês têm de não ter de saber quem é esta gente) que não têm escrúpulos de mentir e caluniar ao serviço dos seus objectivos, então é preciso responder na mesma moeda.
A tragédia de um tipo como o Michael Moore é que ele degrada o debate público. Livros como o “Stupid White Men” ou o “Dude, Where’s My Country” promovem um discurso nocivo: vale tudo, desde que se consiga berrar mais alto que o outro lado.
É por causa de demagogos como o Moore que há pessoas sensatas do calibre do Carcaça a pensar que nos EUA há uma prevalência do politicamente correcto. Isto é um disparate pegado.
Há de facto na América quem pense que Quem não for a favor da guerra no Iraque não é patriota e é amigo dos terroristas . Mas também houve milhões de pessoas andaram nas ruas a manifestar-se contra a guerra no Iraque. Não consta que tenham sido fuziladas. A seguir aos do Harry Potter, o livro mais vendido na América em 2003 foi o do Moore.
As listas de “best sellers” estão cheias de mais livros que chamam ao Bush de tudo (quase todos melhores que os do Moore) — e também estão cheios de livros dos radicais de direita como a Coulter, o Hannity ou o Limbaugh. O país está dividido. E há imenso debate — muito mais que na Europa, onde quem abra a boca contra os dogmas da seita intelectual dominante é logo mandado calar e insultado de neonazi.
É claro, o Moore gosta de fazer passar a ideia de que vive na Alemanha dos anos 30; assim ele parece um herói ainda maior. Por isso é que ele gosta de contar essa história fantástica de como a editora o tentou censurar.
Se o Murdoch e o resto da plutocracia instalada quisesse calar o Moore — não editava o livro. Ou pelo menos não editava milhões de cópias do livro, ou não lhe dava uma campanha de publicidade maciça.
Se fosse verdade que Depois do 11 de Setembro gerou-se um clima contrário à liberdade de expressão o “Stupid White Men” não estaria por todo o lado na América em Abril ou Maio de 2002 (foi quando o comprei). Não havia livraria que não o tivesse à venda e em destaque nos escaparates; o homem aparecia em tudo o que era jornal e programa de televisão.
Eu por mim não falo mais do Moore. O “Guardian” inglês, esse perigoso órgão de extrema direita, descasca a criatura muito melhor que eu neste artigo.
A presença do Moore diminui o nível deste blog. Em vez de mais Moore, proponho que se regresse à programação normal :
Querido DJ, os livros (e o filme) do Moore não contêm apenas algumas incorrecções. Não se trata de uns desleixos com umas contas; trata-se de sistemática desonestidade intelectual. O homem diz mentiras, e sabe que está a dizer mentiras.
Na extrema esquerda americana há quem ache isso muito bem. A lógica é: se há comentadores repugnantes de direita (Rush Limbaugh, Ann Coulter, Sean Hannity — a sorte que vocês têm de não ter de saber quem é esta gente) que não têm escrúpulos de mentir e caluniar ao serviço dos seus objectivos, então é preciso responder na mesma moeda.
A tragédia de um tipo como o Michael Moore é que ele degrada o debate público. Livros como o “Stupid White Men” ou o “Dude, Where’s My Country” promovem um discurso nocivo: vale tudo, desde que se consiga berrar mais alto que o outro lado.
É por causa de demagogos como o Moore que há pessoas sensatas do calibre do Carcaça a pensar que nos EUA há uma prevalência do politicamente correcto. Isto é um disparate pegado.
Há de facto na América quem pense que Quem não for a favor da guerra no Iraque não é patriota e é amigo dos terroristas . Mas também houve milhões de pessoas andaram nas ruas a manifestar-se contra a guerra no Iraque. Não consta que tenham sido fuziladas. A seguir aos do Harry Potter, o livro mais vendido na América em 2003 foi o do Moore.
As listas de “best sellers” estão cheias de mais livros que chamam ao Bush de tudo (quase todos melhores que os do Moore) — e também estão cheios de livros dos radicais de direita como a Coulter, o Hannity ou o Limbaugh. O país está dividido. E há imenso debate — muito mais que na Europa, onde quem abra a boca contra os dogmas da seita intelectual dominante é logo mandado calar e insultado de neonazi.
É claro, o Moore gosta de fazer passar a ideia de que vive na Alemanha dos anos 30; assim ele parece um herói ainda maior. Por isso é que ele gosta de contar essa história fantástica de como a editora o tentou censurar.
Se o Murdoch e o resto da plutocracia instalada quisesse calar o Moore — não editava o livro. Ou pelo menos não editava milhões de cópias do livro, ou não lhe dava uma campanha de publicidade maciça.
Se fosse verdade que Depois do 11 de Setembro gerou-se um clima contrário à liberdade de expressão o “Stupid White Men” não estaria por todo o lado na América em Abril ou Maio de 2002 (foi quando o comprei). Não havia livraria que não o tivesse à venda e em destaque nos escaparates; o homem aparecia em tudo o que era jornal e programa de televisão.
Eu por mim não falo mais do Moore. O “Guardian” inglês, esse perigoso órgão de extrema direita, descasca a criatura muito melhor que eu neste artigo.
A presença do Moore diminui o nível deste blog. Em vez de mais Moore, proponho que se regresse à programação normal :
segunda-feira, janeiro 12, 2004
Michael Moore II
O DJ Carcaça foge à sua habitual clarividência para, aqui abaixo, fazer um elogio ao Michael Moore. Ora, eu também acho piada ao homem. Ele é um tipo divertido e os filmes dele são engraçados (os livros nem por isso).
O problema é que o Michael Moore não pode ser levado demasiado a sério. Ele tem uma agenda política, e no topo dessa agenda política está a defesa dos interesses da sua causa favorita: a máxima divulgação e suprema glória de Michael Moore.
O homem tem talento como cineasta, mas não tanto como documentarista. Ele toma demasiadas liberdades com a verdade. O “Stupid White Men” está cheio de meias-verdades, opiniões apresentadas como factos e puras mentiras. Mas o livro é chato e não tenho pachorra para pegar nele outra vez e enumerar os disparates.
Por sorte, eu tinha uma lista dessa preparada sobre o “Bowling for Columbine”. Para quem não viu, o filme é uma dissertação sobre a cultura das armas nos EUA inspirada pelos crimes de Columbine. Está bem feito, e é muito impressionante. Mas também está cheio de pequenas e grandes desonestidades. Por exemplo:
—uma cena mostra uma fábrica da Lockheed Martin, descrita como unidade de produção de armas de destruição maciça. A fábrica produz motores de foguetões para o lançamento de satélites comerciais.
—outra cena mostra o célebre discurso do Charlton Heston (presidente da NRA, o lobby pró-armas da América) em que ele diz que só lhe arrancam a espingarda “from my cold dead hands!”, e sugere que ele foi proferido em Denver uma semana depois dos crimes de Columbine. O discurso foi feito um ano antes, na Carolina do Norte (Denver fica a poucos quilómetros de Columbine, a Carolina do Norte é do outro lado do país).
—ao longo do filme são apresentadas várias estatísticas sobre homicídios e crimes com armas de fogo nos EUA e em outros países industrializados; nem era preciso alterá-las (elas são suficientemente impressionantes), mas mesmo assim estão quase todas erradas.
—numa das cenas, o Moore diz que os EUA ofereceram 245 milhões de dólares ao regime taliban do Afeganistão entre 2000 e 2001 (sugerindo que foi o Governo americano a financiar o 11 de Setembro); esse dinheiro, usado em ajuda humanitária contra a fome no Afeganistão, não veio do Governo americano mas de agências da ONU e de ONG americanas.
Há mais, mas isto já vai muito comprido. Enquanto lia o “Stupid White Men” dei com muito mais destas “distracções”; quem tiver pachorra que vá atrás delas. De resto, o que eu achei mais irritante no “Bowling for Columbine” foi o tom demagogo do Moore.
Há uma cena no filme em que ele faz uma entrevista ao Charlton Heston, berra-lhe perguntas agressivas e persegue-o pela própria casa dele a tentar enfiar-lhe na cara a foto de uma rapariga morta num crime com armas de fogo. Sim, o Charlton Heston não é flor que se cheire; mas já na altura em que o filme foi feito o homem era um velhote claramente incapacitado, que sofria de Alzheimer’s. Não é coragem nenhuma intimidá-lo.
Da mesma maneira que não é coragem nenhuma usar os óscares para fazer um discurso anti-Bush. O Moore não corria riscos — não foi preso, não mandaram capangas para lhe partir os joelhos, nem sequer correu o risco de banirem os filmes dele. Em vez disso, fazer escandaleira nos óscares serviu ao Moore para pôr os seus dois livros na lista de “best-sellers” e chamar atenção ao filme.
E, claro, serviu para que o resto do mundo ficasse a pensar que o Moore é uma voz contestatária no meio do consenso, tantas vezes forçado, que domina a opinião pública norte americana em relação a certos assuntos.
Isso do consenso tantas vezes forçado é uma treta. Na América não há consenso sobre nada. Então sobre política muito menos. Os europeus adoram ouvir falar sobre Os interesses obscuros da plutocracia instalada na América, e por isso é que dão tanta atenção a patetas como o Chomsky ou o Moore.
Ora, quando um gajo critica o Michael Moore, cai-lhe logo em cima a intelectualidade bloquisteira de esquerda a uivar “imperialista! Esbirro do bushismo!”. Mas é possível criticar o Bush sem ser desonesto como o Moore. Têm aqui uma série de nomes de críticos sérios do Bush e respectivos livros:
Molly Ivins, “Bushwacked”.
Al Franken, “Lies and the lying liars that tell them”.
Paul Krugman, “The Great Unravelling”.
Estas pessoas detestam o Bush tanto como o Moore. Mas argumentam melhor, escrevem livros mais interessantes, e não têm uma relação tão difícil com a verdade como ele.
O DJ Carcaça foge à sua habitual clarividência para, aqui abaixo, fazer um elogio ao Michael Moore. Ora, eu também acho piada ao homem. Ele é um tipo divertido e os filmes dele são engraçados (os livros nem por isso).
O problema é que o Michael Moore não pode ser levado demasiado a sério. Ele tem uma agenda política, e no topo dessa agenda política está a defesa dos interesses da sua causa favorita: a máxima divulgação e suprema glória de Michael Moore.
O homem tem talento como cineasta, mas não tanto como documentarista. Ele toma demasiadas liberdades com a verdade. O “Stupid White Men” está cheio de meias-verdades, opiniões apresentadas como factos e puras mentiras. Mas o livro é chato e não tenho pachorra para pegar nele outra vez e enumerar os disparates.
Por sorte, eu tinha uma lista dessa preparada sobre o “Bowling for Columbine”. Para quem não viu, o filme é uma dissertação sobre a cultura das armas nos EUA inspirada pelos crimes de Columbine. Está bem feito, e é muito impressionante. Mas também está cheio de pequenas e grandes desonestidades. Por exemplo:
—uma cena mostra uma fábrica da Lockheed Martin, descrita como unidade de produção de armas de destruição maciça. A fábrica produz motores de foguetões para o lançamento de satélites comerciais.
—outra cena mostra o célebre discurso do Charlton Heston (presidente da NRA, o lobby pró-armas da América) em que ele diz que só lhe arrancam a espingarda “from my cold dead hands!”, e sugere que ele foi proferido em Denver uma semana depois dos crimes de Columbine. O discurso foi feito um ano antes, na Carolina do Norte (Denver fica a poucos quilómetros de Columbine, a Carolina do Norte é do outro lado do país).
—ao longo do filme são apresentadas várias estatísticas sobre homicídios e crimes com armas de fogo nos EUA e em outros países industrializados; nem era preciso alterá-las (elas são suficientemente impressionantes), mas mesmo assim estão quase todas erradas.
—numa das cenas, o Moore diz que os EUA ofereceram 245 milhões de dólares ao regime taliban do Afeganistão entre 2000 e 2001 (sugerindo que foi o Governo americano a financiar o 11 de Setembro); esse dinheiro, usado em ajuda humanitária contra a fome no Afeganistão, não veio do Governo americano mas de agências da ONU e de ONG americanas.
Há mais, mas isto já vai muito comprido. Enquanto lia o “Stupid White Men” dei com muito mais destas “distracções”; quem tiver pachorra que vá atrás delas. De resto, o que eu achei mais irritante no “Bowling for Columbine” foi o tom demagogo do Moore.
Há uma cena no filme em que ele faz uma entrevista ao Charlton Heston, berra-lhe perguntas agressivas e persegue-o pela própria casa dele a tentar enfiar-lhe na cara a foto de uma rapariga morta num crime com armas de fogo. Sim, o Charlton Heston não é flor que se cheire; mas já na altura em que o filme foi feito o homem era um velhote claramente incapacitado, que sofria de Alzheimer’s. Não é coragem nenhuma intimidá-lo.
Da mesma maneira que não é coragem nenhuma usar os óscares para fazer um discurso anti-Bush. O Moore não corria riscos — não foi preso, não mandaram capangas para lhe partir os joelhos, nem sequer correu o risco de banirem os filmes dele. Em vez disso, fazer escandaleira nos óscares serviu ao Moore para pôr os seus dois livros na lista de “best-sellers” e chamar atenção ao filme.
E, claro, serviu para que o resto do mundo ficasse a pensar que o Moore é uma voz contestatária no meio do consenso, tantas vezes forçado, que domina a opinião pública norte americana em relação a certos assuntos.
Isso do consenso tantas vezes forçado é uma treta. Na América não há consenso sobre nada. Então sobre política muito menos. Os europeus adoram ouvir falar sobre Os interesses obscuros da plutocracia instalada na América, e por isso é que dão tanta atenção a patetas como o Chomsky ou o Moore.
Ora, quando um gajo critica o Michael Moore, cai-lhe logo em cima a intelectualidade bloquisteira de esquerda a uivar “imperialista! Esbirro do bushismo!”. Mas é possível criticar o Bush sem ser desonesto como o Moore. Têm aqui uma série de nomes de críticos sérios do Bush e respectivos livros:
Molly Ivins, “Bushwacked”.
Al Franken, “Lies and the lying liars that tell them”.
Paul Krugman, “The Great Unravelling”.
Estas pessoas detestam o Bush tanto como o Moore. Mas argumentam melhor, escrevem livros mais interessantes, e não têm uma relação tão difícil com a verdade como ele.
segunda-feira, janeiro 05, 2004
And now...
... Notas da Nova Albion
3. The Office
Imaginem um documentário sobre o tema "o funcionamento de uma empresa moderna". Imaginem que a BBC escolhia uma companhia de papel britânica e ia entrevistar os seus funcionários, vê-los em acção. A televisão estatal britânica pegou na ideia e fez algo ainda melhor: uma série humorística.
A linguagem é, no entanto, fiel à sugestão inicial, com uma filmagem típica de documentário, que enriquece ainda mais a coisa. A câmara deambulante vai captando o quotidiano dentro da firma, descobrindo os podres dos seus funcionários, as situações dilbertianas do mundo empresarial (que são mais comuns do que às vezes se imagina). Só pelo papelão do actor Ricky Gervais, que encarna a personagem principal (David), vale a pena.
Em Inglaterra, acabaram agora de exibir a segunda série. Pelo que me constou, em Portugal a RTP2 já exibiu a primeira, no programa Britcom. Quem quiser saber mais, é ir ao site oficial.
... Notas da Nova Albion
3. The Office
Imaginem um documentário sobre o tema "o funcionamento de uma empresa moderna". Imaginem que a BBC escolhia uma companhia de papel britânica e ia entrevistar os seus funcionários, vê-los em acção. A televisão estatal britânica pegou na ideia e fez algo ainda melhor: uma série humorística.
A linguagem é, no entanto, fiel à sugestão inicial, com uma filmagem típica de documentário, que enriquece ainda mais a coisa. A câmara deambulante vai captando o quotidiano dentro da firma, descobrindo os podres dos seus funcionários, as situações dilbertianas do mundo empresarial (que são mais comuns do que às vezes se imagina). Só pelo papelão do actor Ricky Gervais, que encarna a personagem principal (David), vale a pena.
Em Inglaterra, acabaram agora de exibir a segunda série. Pelo que me constou, em Portugal a RTP2 já exibiu a primeira, no programa Britcom. Quem quiser saber mais, é ir ao site oficial.
domingo, janeiro 04, 2004
Eu compro
Estava noutro dia a ver um episódio antigo dos Simpsons, chamado Bart Sells His Soul. No episódio, o Bart Simpson vende a sua alma por cinco dólares ao Milhouse.
Isso deu-me uma ideia. Devia ter-me lembrado disto antes do Natal, que tinha dado uns presentes engraçados. Mas enfim, ainda vamos a tempo.
Eu compro, por cinco dólares, almas. Quem tiver uma alma, nova ou velha, usada ou em bom estado, eu compro. A coisa é séria: preciso de um certificado assinado (não precisa de ir a notário, mas quero pelo menos uma fotocópia do BI) em que o vendedor se compromete a transmitir todos os direitos de propriedade da sua alma para mim. Qualquer coisa assim:
O abaixo assinado transmite a Tiberius, pela quantia de cinco (5) dólares dos Estados Unidos, com efeitos perpétuos, a sua alma imortal, tal como reconhecida pela maioria dos sistemas religiosos, filosóficos e metafísicos.
Pago cinco dólares e não discrimino entre boas e más almas. Os interessados podem fazer as suas propostas a nduro@mail.pt. Obrigado.
Estava noutro dia a ver um episódio antigo dos Simpsons, chamado Bart Sells His Soul. No episódio, o Bart Simpson vende a sua alma por cinco dólares ao Milhouse.
Isso deu-me uma ideia. Devia ter-me lembrado disto antes do Natal, que tinha dado uns presentes engraçados. Mas enfim, ainda vamos a tempo.
Eu compro, por cinco dólares, almas. Quem tiver uma alma, nova ou velha, usada ou em bom estado, eu compro. A coisa é séria: preciso de um certificado assinado (não precisa de ir a notário, mas quero pelo menos uma fotocópia do BI) em que o vendedor se compromete a transmitir todos os direitos de propriedade da sua alma para mim. Qualquer coisa assim:
O abaixo assinado transmite a Tiberius, pela quantia de cinco (5) dólares dos Estados Unidos, com efeitos perpétuos, a sua alma imortal, tal como reconhecida pela maioria dos sistemas religiosos, filosóficos e metafísicos.
Pago cinco dólares e não discrimino entre boas e más almas. Os interessados podem fazer as suas propostas a nduro@mail.pt. Obrigado.