Barcelos, Braga, 12 Ago (Lusa) - Entre os corredores, é comum tentar ir “à morte”, evitar ou produzir “abanicos”, e fugir ao “empeno” e ao “homem do martelo”, para escapar à “carroça”, seja na Volta a Portugal em bicicleta ou noutra qualquer.
“Empeno é quando uma pessoa chega mesmo desgastado, carroça utiliza-se quando alguém chega de noite. Há os ‘abanicos’ [leques] que são quando o pelotão se fracciona devido ao vento lateral”, explicou Tiago Machado (Madeinox-Boavista), acrescentando as expressões de “motor partido”, quando se pára na estrada, e “bidon”, para avisar o pelotão para um corredor mais lento.
Ricardo Felgueiras, ex-corredor, agora com funções na organização, confirma todas estas expressões da gíria velocipédica, desconhecida da maioria, e acrescenta uma figura temível: “O homem do martelo”.
“Uma pessoa ia bem e, de repente, teve um desfalecimento. Costuma até dizer-se que está mesmo um homem do martelo na beira da estrada e dá a cacetada no atleta”, frisou Felgueiras, juntando a este léxico as tentativas “de meter na roda” ou “abrigar” para “aproveitar ao máximo o adversário”, numa acção de “come e bebe”.
Depois da poupança, se estiverem “como um tiro”, os corredores podem tentar “atacar” e até ir “à morte” - uma expressão decalcada do espanhol “a muerte”.
“Ir à morte é dar tudo o que se tem e não se tem”, disse Rui Sousa (Liberty Seguros), enquanto o companheiro de equipa e “sprinter” Manuel Cardoso prefere um vocabulário mais bélico: “Quando dizemos que está como um tiro é sinal de que está muito forte, muito rápido”.
Nem só através de palavras se comunica no pelotão, também através de gestos. Se bater com uma mão na outra serve de despertador para alguém “atacar”, um gesto rotativo com ambas as mãos apela a que se puxe “à vez”, explicou à Lusa o campeão nacional de contra-relógio. O pirete significa "há moira na costa" e é utilizado quando os ciclistas vislumbram uma mulher da vida estacionada na berma da estrada. Este último sinal é normalmente usado para evitar que os concorrentes se distraiam com as curvas das mulheres em causa, dado que pelo pelotão correm histórias de quedas aparatosas devidas a este fenómeno. Diz-se mesmo que Joaquim Agostinho terá perecido na Volta ao Algarve não devido ao cão que se atravessou na estrada, mas derivado à dona do cão, que, em topless, aplaudia o campeão.
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