Ele, todos os dias, deitava-se á beira-mar.
Vestido e nas mãos o diário ensopado de letras. E esperava que ela fizesse o mesmo. O Atlântico, em pleno Inverno, acorda ressacado depois do torpor estival e fustiga a costa como um chicote revolto que une os continentes. Ele não se importava com isso.
Deitava-se na areia à espera que ela, do outro lado do lençol, fizesse o mesmo. Nesses momentos, uma manta azul de água unia dos dois corpos na extremidade de uma imensa cama. A espuma era a renda desse cobertor e ele sentia-se feliz. Esperando que ela estivesse feliz com ele. Deitados na areia à beira-mar. Com as ondas a percorrerem-lhe o corpo, ele fazia amor com ela, num sexo revolto e animal que percorria milhares de milhas náuticas de distância. As ondas que o cobriam eram os abraços dela e ele respondia com carícias pontuadas de espuma. E mesmo quando o mar o engoliu ele pensava que era um abraço mais forte do seu amor, à beira de ter um orgasmo.
E nem quando sentiu a água a queimar-lhe os pulmões, ele reagiu. Aquilo não passava de um espasmo normal entre dois amantes que se exauriam mutuamente.
Naquele dia, dois corpos morreram à beira-mar. Um em cada lado do Atlântico mas as almas uniram-se num coito com o oceano que os acolheu.
Sem comentários:
Enviar um comentário