quarta-feira, dezembro 07, 2005

Alta Artrose
Tiberius, o incomodado



A crítica de Tiberius a "O Jardineiro Fiel" é, no mínimo, curiosa. O vil ataque à minha pessoa não nos parece inocente. A ira que o tema provoca em Tiberius dá que pensar. O exercício de sofisma que utiliza no seu "desmontar por partes" é perigoso, pode levar o leitor menos atento a pensar que se trata de um mau filme, quando assim não é. Deixando de lado as partes em que o maldizer é fácil e sem fundamentação (o que é difícil, de tão impregnado de fel que está o texto), façamos pois o mesmo com as palavras de Tiberius para desvendar a farsa:

"ora mete uns filtros para a imagem aparecer tão saturada de cor que não se vê uma porra, ora se põe uns ângulos de câmara meio chanfrados a despropósito, ora a montagem fica fora de ordem para fingir que a narrativa não é linear. Todos os truques de realizador rasca para se armar em cinéma d'art, o Meirelles usa."

Os "truques de realizador rasca" que Tiberius tão cheio de conhecimento enumera não são mais do que artifícios usados antes por outros realizadores (e curiosamente mais comuns nos filmes bons, do que nos filmes maus) mas não é isso obviamente que distingue um filme bom de um filme mau. Se este fosse um filme mau, não seria certamente devido aos ângulos de câmara e aos filtros, por isso não se compreende onde quer chegar Tiberius neste ponto.

"Uma nódoa na carreira do Ralph Fiennes, cuja única defesa é que a co-estrela é ainda pior - uma histérica irritante chamada Rachel Weisz, que dá vontade de atirar fruta para o ecrã de cada vez que ela aparece."

Não nos parece. Os actores são bons actores, que expressam as emoções que devem expressar, quando devem expressar. A dúvida na cabeça do protagonista sobre a sua amante também passa pela cabeça do espectador e isso é bem feito.

Isto é uma "forte denúncia blá blá" da mesma maneira que os filmes do James Bond são uma forte denúncia dos malefícios do tabaco. A história não só é inverosímil como é estúpida.

Inverosímil? Será assim tão inverosímil? E mesmo que o seja, desde quando isso é critério para distinguir uma boa de uma má história? O argumento é tão válido como dizer de um qualquer episódio das duas trilogias de Star Wars: "É um mau filme, pois não há provas científicas de que os jedis existam" ou "o hiperespaço viola as leis da física".

"a maneira como esta bosta olha para África é de uma desonestidade total, até racista. Todo o filme gira à volta do pressuposto dos pretinhos simpáticos, todos boas pessoas, vivem no bairro de lata mas são todos alegres e de bom coração, um bocado limitados coitados, deixam-se explorar facilmente pelos maus, só precisam que chegue um ou dois brancos iluminados para lhes mostrar o caminho."

Não é verdade. No filme também aparecem os pretos maus, os corruptos, os saqueadores. Não vemos racismo na abordagem deste filme.

Afinal, o que é que, de verdade, tanto incomoda Tiberius em "O Fiel Jardineiro"? Não são certamente os movimentos de câmara nem o défice de pretos maus. Será talvez a tese de que o bem-estar dos povos do Terceiro Mundo é actualmente posto em causa por multinacionais sem escrúpulos? Um pouco contrária às posições pró-americanistas, aliás assumidas, de Tiberius, não? O ND está em condições de revelar que Tiberius é um jogador compulsivo da bolsa. Terá medo de que a popularização destas teses façam cair a cotação das acções da Roche e da Bayer que comprou recentemente?

O Fiel Jardineiro é uma merda tão grande... que é tão mau como o serviço da PT!

Ficaremos atentos aos movimentos do mercado e veremos se Tiberius não irá comprar acções da PT, aproveitando a queda no preço que tal afirmação publicada neste blog, que é um dos mais visitados do país, irá provocar.

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