quinta-feira, dezembro 29, 2005

Em defesa da siesta

À atenção do Grupo de Trabalho Anticapitalismo e Antiglobalização do Núcleo (DJ Carcaça), este artigo num órgão de referência de um país obscuro:


Lei acaba com a siesta em Espanha
Daniel Wolls, Madrid


Longas pausas para almoço reduzidas a uma hora

Famosa pelos almoços demorados e pelas longas jornadas de trabalho, a Espanha aboliu oficialmente a partir de ontem a siesta, para permitir, pelo menos aos funcionários públicos, segundo a explicação do Governo socialista, passar mais tempo com a família e os amigos.
Muitos funcionários públicos espanhóis trabalham das nove da manhã às duas da tarde e fazem então uma pausa para almoço que pode acabar às 16h30, cumprindo depois três horas ou mais de trabalho. Se a isto juntarmos uma hora para chegar ao emprego e outra para regressar a casa, acontece que a maioria está doze horas por dia, no mínimo, longe de casa.
Na esmagadora maioria dos outros países da Europa, a hora de saída da função pública é às 17h00, com uma hora de intervalo para almoço. Agora, com a lei publicada na terça-feira, os departamentos da função pública espanhola terão as 18h00 como hora limite de encerramento, no âmbito de um conjunto de medidas que visa permitir um maior equilíbro entre trabalho e família.
Quando o pacote legislativo foi aprovado, no início de Dezembro, o ministro da Administração Pública, Jordi Sevilla, falou de "um dia feliz como ministro, funcionário público e pai de três filhos".
Os funcionários públicos - há cerca de 550 mil espanhóis que trabalham para o Governo central - têm agora a possibilidade de efectuar pausas para almoço mais curtas, mantendo a sua carga horária semanal, que é de 37 horas e meia ou 40 horas, conforme os casos.
Sevilla afirmou já esperar que o sector privado dê passos no mesmo sentido.
Uma influente associação, o Círculo de Empresários, afirmou num relatório publicado a semana passada que, em geral, os espanhóis trabalham muitas horas - apenas um pouco abaixo dos japoneses mas acima dos canadianos e britânicos, por exemplo - mas têm uma produtividade baixa. Claudio Boada, presidente do Círculo, acredita que a siesta custa à economia espanhola "pelo menos oito por cento do produto interno bruto".
Apenas 61 por cento do tempo que passam nos seus empregos é utilizado com eficácia, precisava o relatório, citando a consultora Proudfoot, do grupo londrino Management Consulting Group.
O ministro Sevilla pensa que a Espanha pode fazer a transição para um horário "europeu" e não baixar os índices de produtividade.
Outra mudança na nova lei permite, por exemplo, aos funcionários públicos tirar dez dias com vencimento em caso de nascimento (ou adopção) de um filho, quando até agora tinham três dias. E os funcionários públicos podem também reduzir a metade o número de horas que trabalham, com a correspondente redução salarial, se tiverem filhos com menos de doze anos.
Jordi Sevilla, cujos três filhos são adoptados, recordou este mês que quando adoptou o segundo, em 2000, era o responsável do Partido Socialista Operário Espanhol para os assuntos económicos e pediu ao líder, o agora primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero, algum tempo de folga. "Ele disse-me que sim. Tirei dez ou doze dias. Senti-me privilegiado por poder fazer uma coisa que a maioria das pessoas não podia."
Sevilla acrescentou que, quando em 2004 se tornou ministro, decidiu dar prioridade a medidas para que todos os funcionários públicos pudessem beneficiar do mesmo.


Podem ler mais no FT sobre este erro crasso do Governo espanhol.

Que asneirada imensa. A globalização, ao contrário do que os tontos iletrados (Ernesto), os trotskistas bafientos (Carcaça) ou as amebas invertebradas (Zizou) pensam, é não só inevitável como boa. Mas não há nada na vida que seja exclusivamente bom. A globalização tem um lado negativo - e aí está ele ilustrado por esta calinada do Governo de Espanha.

Em nome de uma alegada melhoria de produtividade e de um putativo aumento do PIB, acaba-se assim com uma tradição milenar, saudável, civilizada. Eu não sou a favor de manter tradições só porque são tradições, mas esta valia a pena.

Mais: a siesta não só provavelmente faz bem à produtividade (eu cá, é meio dia e não me importava nada de ir dormir umas horitas), como era um marco distinto da cultura espanhola. Ao extingui-la, o Governo espanhol está a normalizar e banalizar Espanha. Que erro, que asneira colossal.

Porque é que os espanhóis se meteram nisto? Há uma explicação. Como é do conhecimento geral, há alguns meses que o tenebroso Vostra, agente das multinacionais, radicou-se em Madrid. É graças à sua influência que foi dado este golpe sobre a qualidade de vida do trabalhador espanhol!

Vostra, seu ranhoso, devolve-nos a siesta!

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