sexta-feira, maio 28, 2004

Gil e o celular



Acabado de chegar de viagem, fui directo para o Hotel D. Pedro (Lisboa), onde Gilberto Gil, o agora ministro da Cultura brasileiro, iria dar uma conferência de imprensa a propósito do Rock in Rio. O protocolo decorria normalmente, quando tocou o telemóvel do cantor, que embaraçado recusa a chamada, apertando num botão que cala o aparelho.

Ninguém pareceu se incomodar e a conferência retomou o seu rumo normalmente, mas eis que escassos momentos depois "TILILILILILI...". O celular do politicantor não o deixava em paz. Desta vez, a risota foi geral com o ar atrapalhado do ministro que desafia a moda ministerial, confrontando o fato e gravata com o seu penteado rasta abaianado.

Para gáudio geral, o telefone voltou a tocar. O burburinho bem disposto dos jornalistas - muitos deles brasileiros - culminou com um pedido em coro:

- Atende aí!
- Será que é o Lula? - especulava um em voz alta, ajudando o ministro a decidir tomar uma atitude:
- Só vendo... - disse enquanto tocou noutro botão, desta vez para atender a chamada - Alô! Olha, agora não vou poder falar com você. Estou aqui no meio de uma conferência de imprensa. Me liga mais tarde...
Os olhares curiosos dos jornalistas pediam uma explicação, que não tardou em vir, sempre com o jeito simpático do músico, assim que desligou o telemóvel:
- Não era o Lula, não. Era um secretário do meu ministério...
Algo que nunca esquecerei



Julguei que aquela noite de 1987 em Viena nunca seria superada na minha memória de adepto como o mais glorioso momento do meu clube. Enganava-me. Se, por um lado, o Bayern de Munique que o calcanhar de Madjer derrotou talvez fosse um adversário relativamente mais forte que o Mónaco da última quarta-feira, a verdade é que todo o percurso que o FC Porto fez nesta edição da Liga dos Campeões em nada fica a dever ao da equipa de Frasco, Juary, Inácio, Futre e Madjer. Os comandados de Mourinho jogaram sempre como uma máquina bem oleada, tal como os pupilos de Artur Jorge - o segundo golo, de Deco, é uma jogada soberba de futebol objectivo. O 3-0 desta final parecia vir do fundo das entranhas, um bradar a toda a Europa: NÓS SOMOS OS CAMPEÕES!!!

Por pura coincidência, parti na manhã seguinte para Nice, a trabalho. À noite, tive a oportunidade de dar um saltinho até ao Mónaco. As pessoas com quem contactei e que me disseram ter torcido pelos monegascos não se incomodaram com o meu indisfarçável sorriso de campeão. Deram-me os parabéns pela forma indiscutível como o Porto conquistou o troféu.

segunda-feira, maio 24, 2004

A primeira anedota do alargamento



Um polaco vai ao oftalmologista.
- Ora, então veja lá se consegue ler esta linha - diz o médico enquanto aponta para um quadro onde se vêm as letras C Z W S C K M T S.
- Se eu consigo ler? Eu até conheço o gajo!

sexta-feira, maio 21, 2004

Portugal Negativo

Este artigo sobre o VPV e a campanha Portugal Positivo é impagável. O VPV tirou-me as palavras da boca. O título do texto até merece ir em letras grandes:

"Se Há Alguma Coisa de Que Nós Precisamos É de Menos Auto-estima"

Ora nem mais! Leiam o resto do texto que a coisa é gira. Eu pela minha parte lanço aqui a campanha PORTUGAL NEGATIVO. O objectivo da campanha é baixar a auto-estima nacional através do reconhecimento dos seguintes factos:

*A culpa (do atraso, da crise, da tristeza, etc.) não é dos políticos
*A culpa não é dos árbitros
*A culpa não é dos jornais
*A culpa não é dos espanhóis
*A culpa não é dos americanos
*A culpa não é do sistema
*A culpa não é do Salazar
*A culpa não é da SIC
*A culpa não é dos imigrantes

*A culpa... é nossa!

quinta-feira, maio 20, 2004

Escutas do Núcleo
Filosofia de Ponta

Um quarentão e um jovem nos urinóis de uma das casas de banho do grupo editorial Impala (que publica a Focus, Nova Gente, Maria e outras revistas).

Quarentão: - Então, já cá temos o Verão...
Jovem: - Eh, pá nem me fales. Tenho um problema com o Verão!...
- Ai, sim?
- Eu e o Verão temos um problema que está para durar por muuuitos anos.
- Atão?
- Eh, pá. É que eu ponho-me a pensar ao que o homem chegou nos dias de hoje, após séculos de evolução, como é que insiste em trabalhar no Verão!?...
- (!?) Ah, hehe...
- É um problema existencial o meu, tá a ver?

terça-feira, maio 18, 2004

A questão do mérito



Tirando a questão da desculpabilização dos técnicos em relação ao que dizem após os jogos por estarem nervosinhos, com a qual não concordo - acho que a hipocrisia desses pacóvios é uma indesculpável falta de respeito para com os colegas, adversários, adeptos, etc. - não há verdadeira matéria para discussão entre mim e o Zizou.

A análise do merecimento da vitória por esta ou aquela equipa é tão subjectiva quanto discutir se a maçã é melhor que a banana. O melhor exemplo de que me lembro para demonstrar isto reporta-nos a um Argentina-Brasil do Mundial de 1990. A selecção "canarinha" passou o jogo inteiro ao ataque. Careca e Alemão deram um festival de bolas nos ferros e o frangueiro argentino Goycoechea fez defesas impossíveis. Até que a uns escassos minutos do fim, num brilhante lance de contra-ataque, Maradona ofereceu a bola a Caniggia, que com uma frieza letal matou a eliminatória.

Contra a opinião da maioria das pessoas, acho que a Argentina não só mereceu a vitória como mostrou a grande magia do futebol: a esperança que qualquer equipa pode ter no golo redentor, a hipótese de o David derrotar o Golias. Que seca seria a modalidade se as vitórias fossem decididas por um júri que desse nota artística e técnica às equipas!
Ó Vostradeis, Vostradeis...

Claro que não foi pelo árbitro, mas por culpas próprias, que o Porto perdeu a Taça, mas a rábula do Mourinho é compreensível ? o homem estava frustrado e nervoso e ninguém lhe pode levar a mal alguns excessos. Mas há que reconhecer que a arbitragem esteve longe de ser perfeita, embora os erros tenham sido repartidos.
Mas o que me surpreende é que digas que, «ao contrário do que disse José Mourinho, foi merecida a derrota do FC Porto na Taça de Portugal». Merecida?! Como pode alguém dizer semelhante barbaridade, depois de 100 minutos de clara supremacia do Porto contra 20 minutos de superioridade do Benfica? O que fez o Benfica para merecer ganhar? A «paciência», «concentração» e «humildade» de que falas não são atributos suficientes para justificar uma vitória. Então e a enorme disparidade na qualidade de jogo, a diferença nas oportunidades criadas, o domínio do adversário mesmo com 10 jogadores...? O Benfica ganhou porque teve sorte e o resto é conversa!
Mourinho e o desperdício



Ao contrário do que disse José Mourinho, foi merecida a derrota do FC Porto na Taça de Portugal, diante de um Benfica que compensou com paciência e concentração o que lhe faltou em futebol e bateu claramente o adversário em humildade. Lamentável a reacção do treinador portista em relação à arbitragem, que esteve à altura do jogo. Mourinho voltou a mostrar que a este nível não é melhor que qualquer representante da "geração bigode" de treinadores portugueses, que semana após semana repetem a mesma choradeira do penalti mal marcado e do fora-de-jogo mal assinalado. E sem necessidade. Um treinador de sucesso como ele inegavelmente é teria mais valor se não fosse pedante.

Na final do Jamor, o FC Porto teve o jogo na mão. Marcou primeiro mas não soube gerir. O Benfica empatou sobretudo com mérito próprio, numa bela jogada. Faltou então paciência aos "dragões", que na segunda parte poderiam facilmente impor o seu melhor futebol. Jorge Costa foi infantil, pra não dizer burro, no lance em que viu o vermelho. Mourinho podia ter falado disso, reconhecido o mérito do adversário e mais nada. Como um homem. Preferiu ser mais uma menina nervosa. Um grande treinador que desperdiça uma boa oportunidade de ser também um grande senhor. Uma pena.

domingo, maio 16, 2004

Grande regresso!

Estou eu a ouvir o relato da Taça, e cá está o grande Ribeiro Cristovão a fazer o relato na Renascença! Grande notícia: desde que me lembro de existir que ouço a bola na Renascença, já tenho saudades de ouvir as vozes do Cristovão e do Pedro Azevedo.

Mas o homem não era deputado agora? Então um tipo pode ir da Assembleia para o Jamor fazer relatos?

sábado, maio 15, 2004

Major Tom III

Para os vários milhões de fãs do David Bowie que seguem o Núcleo: não é que o homem se tenha tornado numa criatura embaraçosa com a idade (tipo o Paul McCartney ou o Michael Jackson), mas acho que o melhor que ele fez foi tudo até ao final dos anos 70.

Nos anos 90, os melhores discos do David Bowie não foram feitos por ele. Foram feitos pelos Suede (embora os Suede também roubem descaradamente aos T-Rex) e, por muito esquisito que pareça, pelo Marilyn Manson (este disco é metade "Space Oddity", metade "Ziggy Stardust"). Ouçam esses discos, que eles provocam muitos "momentos Zizou".

sexta-feira, maio 14, 2004

Ground Control to Major Tom

Ao Zizou é que costumam acontecer destas epifanias, mas há bocado também tive um "momento Zizou". Estava a ouvir "Space Oddity" do David Bowie e a pensar que há obras de arte perfeitas e que o conceito de um tipo ser imortalizado por uma coisa que ele escreveu não é assim tão piroso como isso.

"Space Oddity" (é aquela do "Ground Control to Major Tom") é uma música perfeita, até no sotaque cockney que o homem tinha há trinta e tal anos. Foi a primeira canção do Bowie a tornar-se conhecida, e embora ele tenha feito outras coisas giras, nunca mais fez nada tão bom.


For here am I sitting in a tin can
Far above the world
Planet Earth is blue
And there's nothing I can do


Um gajo pode passar a vida toda sem fazer nada de jeito, mas se tiver escrito alguma coisa como "Space Oddity" a existência dele já teve significado.


This is Major Tom to Ground Control
I'm stepping through the door
And I'm floating in a most peculiar way
And the stars look very different today


O mais giro é que eu nem tenho certeza se percebo o que o homem está a dizer. Se calhar a música não tem nada a ver com um astronauta sozinho no espaço e é uma metáfora para as experiências alucionogénicas ou para as aventuras homossexuais do Bowie, mas não interessa. É uma música bestial na mesma. Ide ouvi-la.

P.S: E também gosto muito do "Starman".
Um grande livro, apesar da advertência do cosmos

Como estou de folga e está sol e calor, fui até à Costa Nova, onde me instalei numa esplanada quase deserta (Atlândida, pastéis de nata do melhor, sempre quentes e com um frasco de canela à disposição). Abri um livro que ando a ler; folheadas umas páginas, oiço um som discreto e abafado: algo tinha-se vindo abater numa das páginas. A princípio pareceu-me o cadáver de um insecto que calculou mal a trajectória do voo; depois? bem, depois percebi que um pássaro estúpido me tinha cagado o livro.
Poderia interpretar o incidente como uma advertência celestial sobre a qualidade do livro, uma mensagem tipo «esse livro é uma bela merda». Acontece que «A epopeia da expedição amarela», de um sujeito chamado Jacques Wolgensinger, é cativante e merece ser lido.
Já cheira a caneco!



Estou a contar os dias para a final da Liga dos Campeões. Depois do que o FC Porto já fez na edição deste ano, ia saber a morte na praia perder com o Mónaco, embora reconheça que os franceses também estão a jogar bem e aquele Morientes é um perigo!

Por falar nisso, apetece-me deixar aqui uma nota sobre a meia-final com o Corunha. Sei que já passou algum tempo, mas ao menos ninguém me pode acusar de dizer as coisas a quente. O mesmo já não se pode dizer da reacção da imprensa espanhola ao desfecho da eliminatória. Acusaram os "dragões" de antijogo e dureza e até criticaram uma arbitragem limpinha do Collina (muito pior esteve o árbitro da primeira mão, nas Antas). Enfim, não digo que os portugueses não fizessem o mesmo se o resultado tivesse sido favorável aos galegos, mas o que se viu em Espanha, como diria Jaime Pacheco, pode ser resumido numa palavra: Mau perder.

Em homenagem à grande esquadra mourinha, aqui fica um belo conto dos Irmãos Grüne:

A lêndea de Gelsenkirchen

Diz a lêndea, com o consentimento do piolho, que a cidade de Gelsenkirchen, muito antes de assim se chamar, era um povoado florido e perfumado, onde a sofisticada civilização dos visigodos se dedicava à jardinagem, à meditação e às belas artes. Até que um dia vieram as invasões cristãs e os habitantes da aldeia assistiram à construção de uma catedral gótica, que o povo, que mal tinha para comer, teve de pagar à custa grande sacrifício. A dieta de um cidadão era baseada sobretudo em centeio e couve branca, o que vulgarizou uma prática intestinal geralmente tida como rude: o flato.

Os párocos que celebravam as missas, assim como a generalidade da população, não se continham nem durante os serviços religiosos e cedo a terra foi baptizada de Gelsenkirchen (do germânico gels - gás - e kirchen - igreja). O povo assumiu sem complexos as suas ventosidades e não demorou para que toda a nomenclatura clerical fosse adaptada. O padre passou a ser o "peidre", indivíduo que conseguia dizer um "Padre Nosso" todo num único arroto, ao mesmo tempo em que "se abria", peidorristicamente falando. A sacristia foi substituída pela "traquistia". Ali era preparada uma feijoadola que servia para acompanhar a "bóstia" - uma bolachinha de centeio que era tomada no final da missa perante as palavras do peidre: "O cocó de Cristo".

Muito antes da invenção do futebol, havia um anfiteatro romano, no local do actual estádio do Shalke 04, onde eram disputadas as Olimpeidas, os campeonatos locais de piroflato, uma modalidade que consiste na libertação de bufas contra um fósforo aceso. O autor da maior labareda era sagrado vencedor.

É sobre este terreno cheio de história e tradição que o FC Porto irá espalhar o perfume do seu futebol. A quipa portuguesa já está certamente a sentir o cheiro do troféu. Eperemos que entre a todo o gás.

segunda-feira, maio 10, 2004

"The great gig in the sky" (Pink Floyd) - eis uma das melhores músicas de sempre!

segunda-feira, maio 03, 2004

Muito fraco



O programa da Queima das Fitas deste ano arrisca-se a ser o pior de sempre. Denota uma aposta cada vez maior no mercado nacional, o que já de si indica a merda que é. Tirando Da Weasel, que mesmo assim também já esteve melhor, o resto dos cabeças-de-cartaz é uma merda: Blind Zero, DJ Vibe e os fossilizados Rui Veloso, Luís Represas, Quim Barreiros, Xutos e Pontapés e Jorge Palma (OK, este ainda tem uma ou outra).

Aquele que já foi o maior festival musical do país, no tempo em que vinham a Coimbra nomes como Violent Femmes, Tindersticks ou Deus, aparenta estar em franca decadência. Mais, o calendário contribui para a guetização do público: Luís Represas toca na mesma noite que Mafalda Veiga, há uma em que os "artistas" são Iran Costa, Mónica Sintra e Quim Barreiros, etc...

Isso é como se a estudantada passasse a beber Trinaranjus nas Noites do Parque. No meu tempo, a Queima era a festa que tinha o recorde nacional do consumo de cerveja.