sábado, julho 31, 2004

Holocausto açoriano



Os serviços secretos do Núcleo Duro tiveram acesso a um relatório de ocorrências da Polícia de Segurança Pública - Comando de Ponta Delgada. Entre crimes bizarros contra crianças e bebedeiras ao volante, os Açores cada vez mais se afirmam como o Bronx de Portugal. (O ND é alheio aos erros de ortografia, gramática, etc...)

ASSUNTO: Actividade da PSP de 23 a 26 de Julho de 2004

Detenções e ocorrências

Esquadra de Investigação Criminal

Foi elaborado um auto de notícia, por no dia 23 de Julho de 2004, na companhia de elementos da EMAT (Equipa Multidisciplinar de Apoio ao Tribunal de Família e Menores), se terem deslocado a uma residência, onde verificaram que já se encontrava uma ajudante sócio-famíliar na companhia de quatro menores, de 5, 6, 9 e 11 anos de idade, e que o menor, de 9 anos de idade, se encontrava amarrado pelos tornozelos com uma corrente em ferro, trancado com 2 cadeados, respectivamente, em cada perna, impossibilitando este de se mover com normalidade. O menor, referiu que já se encontrava da forma referida, há dois dias e que era hábito o seu pai ter tal procedimento a fim de evitar que os mesmos fujam para a residência da avô. É de referir ainda, que os pais não se encontravam em casa e que muitas vezes são deixados ao abandono e inclusivamente passavam fome.

Esquadra do Trânsito

Foi detido um homem, de 50 anos, por condução de veículo sob influência de álcool, com uma tas de 1,81 g/l.

Foi detido um homem, de 22 anos, por condução de veículo sob influência de álcool, com uma tas de 1,61 g/l.

Foi detido um homem, de 41 anos, por condução de veículo sob influência de álcool, com uma tas de 1,67 g/l.

Foi detido um homem, de 44 anos, por condução ilegal de veículo.

Foi detido um homem, de 36 anos, por condução ilegal de veículo e sob influência de álcool, com uma tas de 1,44 g/l.

Foi detido um homem, de 26 anos, por condução ilegal de veículo e sob influência de álcool, com uma tas de 1,65 g/l.

Esquadra da Ribeira Grande

Foi detido um homem, de 19 anos, por ter cometido o crime de furto de um telemóvel no valor de 200,00 euros, furto este, feito no interior de uma residência.

Esquadra da Lagoa

Foi detido um homem, de 35 anos, por condução de veículo sob influência de álcool, com uma tas de 2,30 g/l.

Esquadra das Capelas

Foi detido um homem, de 45 anos, por condução de veículo sob influência de álcool, com uma tas de 2,48 g/l.

Esquadra de Rabo de Peixe

Foi denunciada uma mulher, de 38 anos, pelo furto de 600,00 euros em numerário.

Acidentes: (26 no total)

Esquadra de Trânsito - PDL

Cinco acidentes com dois feridos ligeiros.

Esquadra de Santa Maria

Um acidente sem feridos.

Esquadra de Ribeira Grande

Cinco acidentes com três feridos ligeiros.

Esquadra de Capelas

Um acidente sem feridos.

Esquadra de Rabo de Peixe

Cinco acidentes sem feridos.

Esquadra de Povoação

Um acidente sem feridos.

Esquadra de Vila Franca do Campo

Dois acidentes sem feridos.

Esquadra de Lagoa

Seis acidentes com um ferido ligeiro.

quarta-feira, julho 28, 2004

Ouvi e gostei

Absolutamente imperdível:
«Living road» e em especial a faixa 11, «Para el fin del mundo», de Lhasa de Sela.

Pastéis de vento
pérolas da sabedoria zen



Um homem muito rico pediu a Sengai que escrevesse algo pela continuidade da prosperidade da sua família, de modo que esta pudesse manter a sua fortuna de geração em geração.

Sengai pegou numa longa folha de papel de arroz e escreveu: "Pai morre, filho morre, neto morre."

O homem rico ficou indignado e ofendido. "Eu pedi-lhe que escrevesse algo pela felicidade da minha família! Porque fizeste uma brincadeira destas?!?""Não pretendi fazer brincadeiras", explicou Sengai tranquilamente. "Se antes da sua morte o seu filho morresse, isso iria magoá-lo imensamente. Se o seu neto se fosse antes do seu filho, tanto você quanto ele ficariam arrasados. Mas se a sua família, de geração a geração, morresse na ordem que eu escrevi, isso seria o mais natural curso da vida. Eu chamo a isso verdadeira riqueza."

Não totalmente convencido, o homem pediu então a Sengai: "Ai, sim? Então, agora escreva aí algo pela sua própria felicidade."

E Sengai escreveu apenas: "Santana Lopes morre."


terça-feira, julho 27, 2004

Escutas do Núcleo
O mistério da Casa Pia



Miúdo de sete anos, cachecol do Benfica ao pescoço, a pedir explicações ao pai, em pleno Metro de Lisboa

- Ó pai, Casa Pia é um clube?
- Hã? O quê(!!!)?
- Casa Pia é um clube?
- (...) Ah, hehe, sim! Só que anda lá pela terceira divisão.
- Terceira divisão!? Poça, o Sporting é mesmo fraco. Não conseguiu nem ganhar ao Casa Pia.
- É, mas isto são só jogos de preparação. Quando começar o campeonato é que se vê.
- O Benfica também tá em preparação e empatou com o Real Madrid!

sexta-feira, julho 23, 2004

Conta outra



Acabo de ouvir o Cunha Vaz, o novo Malheiro do Benfica, a explicar a detenção do Mantorras pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), ao regressar de um estágio na Suíça. Contou a história - muito credível - de que a mulher do angolano se enganou ao fazer a mala do marido e colocou-lhe o passaporte antigo.

Segundo Cunha Vaz, as "irregularidades" detectadas no passaporte do benfiquista resumiam-se, simplesmente, à data de validade expirada. Quer isto dizer que o Mantorras saiu de Portugal, entrou na Suíça e saiu da Suíça sem que ninguém se lembrasse de verificar a data de validade do seu passaporte. Hmmmm...

Aguardamos ansiosos por que alguém do SEF venha contar a verdade e explicar se o passaporte do Mantorras com a validade vencida é o verdadeiro ou aquele outro que permite ao jogador provar que tem bem menos de 30 anos.

quinta-feira, julho 22, 2004

Pastéis de vento
pérolas da sabedoria zen
 

 
Não há nada a procurar na mente.
Tal como as pegadas que os pássaros deixam no céu.
Tal como o rastro da serpente na água depois de atravessar o rio.
Tal como o Durão Barroso a passar pela presidência da Comissão Europeia.



quarta-feira, julho 21, 2004

Escutas do Núcleo
Camelo pornográfico



Um casal de jovens estudantes africanos, à saída do metro em S. Sebastião (Lisboa):

Ela (baixinha, gordinha, de óculos, e cabelo esticado): - Eu acho que vou mas é largar os estudos e tentar uma carreira de actriz, fazer uns filmes...
Ele (meigo, passando de leve o nariz pela testa dela): - Que tipo de filme, hã? Pornográfico? Se for pornográfico podes começar a fazer já...
Ela: - Olha o respeito! Eu não disse que tipo de filme era, seu camelo!


Não comi e não gostei

Há muito tempo que não há uma nova rubrica neste blog. Proponho Não comi e não gostei - que também pode assumir as formas Não vi e não gostei, Não fui e não gostei, etc.

O crucial da ideia é: a Internet já está cheia de gente a fazer de crítico literário, cinematográfico, etc. Mas esta gente normalmente faz a batota de ter visto, comido ou experimentado as coisas que estão a criticar.

Não comi e não gostei tem uma filosofia diferente: só falar de coisas que o autor não conhece, mantendo assim a sua independência e objectividade face ao objecto criticado. Para começar: o filme "The Punisher".


"The Punisher" é baseado na personagem de BD da Marvel cujo nome, nas revistas brasileiras, era traduzido por O Justiceiro.

O Justiceiro é um ex-soldado cuja família foi morta num tiroteio de gangs. Lixado com a injustiça do mundo, o Justiceiro decide matar gangsters - não só os que lhe mataram a família, mas os outros todos que existam no mundo.

Na América, o Justiceiro teve imenso sucesso porque a revista dele apareceu nos anos 80, quando o crime nas cidades atingia o máximo e havia um público para este tipo de fantasias de vigilantismo.

Entretanto, o crime urbano reduziu-se imenso na América, e já não há motivos que justifiquem o Justiceiro, com ou sem KITT. Mas ainda se fazem filmes, como o horrível "Man on Fire", com o Denzel Washington (que não tem direito a um Não comi e não gostei, porque esse vi), cheios de violência gratuita e fantasias de vingança.

Este "The Punisher" parece estar na mesma onda. Um gajo numa fatiota palerma a matar mauzões à dúzia com requintes de malvadez. Não vi e não gostei.

terça-feira, julho 20, 2004

Táxi drástico - Filosofia de praça
 

 
Taxista, dos seus 30 e poucos, da zona de Lisboa, sobre a forma como consome os jornais portugueses:
 
Eu, no dia-a-dia, prefiro o Correio da Manhã ou o 24 Horas. Porque estou parado numa praça de táxis e consigo ler umas duas ou três notícias. Se vou ler o Público, passados cinco minutos tou a dormir. Ao fim-de-semana, sim. Em casa, descansado, sento-me no sofá a ler o Público ou o Diário de Notícias. Do Expresso não gosto. É muito papel...

domingo, julho 18, 2004

Escutas do Núcleo
Quem precisa do professor Marcelo?
 


Um velhote na casa dos 70 e um empregado de balcão de um café do Chiado (Lisboa) traçam de forma simples e concisa um diagnóstico ao panorama político actual.
 
Velhote  - Agora o Santana Lopes vai pra lá. O presidente voltou a fazer asneira.
Empregado - Olhe que o Santana não é pior que o que lá estava.
- Pois, pois...
- E o Sampaio assim livrou-se do Ferro Rodrigues.
- Ao menos isso. O Ferro Rodrigues é um cancro do PS.
- O presidente tirou-o do caminho.
- O Sócrates é que é um bom homem.
- Eh, esse!?... Bom era o Vitorino.
- Aaaah, mas esse não vai pra lá.
- Eles bem queriam, mas ele não... Ôôôô, no que é que ele se ia meter.
- O PS é só indianos. O Ferro Rodrigues é indiano, o outro é indiano... É só indianos!
- He, he, he...
- Qualquer dia já não há brancos em Portugal.
- He, he... Tamos a ir pra lá, tamos.
- Ainda os pretos pelo menos fazem alguma coisa, agora os indianos é só deitarem-se em cima do que os outros fazem.

sexta-feira, julho 16, 2004

Ainda o patrioteirismo (dedicado ao Carcaça)

«Nestas coisas do amor à pátria tenho uma noção um bocado antiquada e simplista: acho que o amor à pátria consiste em estar disposto a servi-la em caso de necessidade sem perguntar primeiro "quanto?", em declarar tudo o que se ganha ao fisco, em votar nas eleições, nem que seja em branco, em defender, por palavras e actos concretos, o seu património histórico, natural e cultural. A onda de histeria patriótica que invadiu o país a propósito do Euro deixou-me meio perplexo, como no dia 26 de Abril de 1974, ao descobrir, igualmente nas ruas, que, afinal, todo o país era composto de resistentes à ditadura. O patriotismo das emoções e das multidões é certamente mais fácil do que o patriotismo dos deveres serenamente cumpridos. Até porque o primeiro dura o espaço de um acontecimento e o segundo a vida toda».

Miguel Sousa Tavares

terça-feira, julho 13, 2004

Euro post-mortem 4 * Pão & Circo

Achei muito perturbadora a tendência durante o Euro de dizer mal de Pão & Circo. Lá vinham os chatos do costume a resmungar que isto da mania da bola era embrutecer o povo, que era o Pão & Circo como no tempo dos romanos, que o futebol é o ópio do povo, etc.

E eu pergunto: qual é o mal de Pão & Circo? Eu gosto. Os intelectuais anti-bola querem que um gajo se alegre com o quê? Com as obras de Marx e Engels? Com a poesia encadernada da Natália Correia? Com música de câmara?

Fiquei muito surpreendido com a atitude da nação sobre o Euro. Estava à espera que se prolongasse o argumentário idiota do "tanto dinheiro para estádios que podia gastar-se doutra maneira". Mas quase toda a gente percebeu que o Euro foi bestial.

Eu por mim desde o início que achava que o Euro era uma ideia magnífica. Primeiro, porque felicidade não tem preço: se custou 600 milhões de euros ter um mês de animação e alegria genuína, o dinheiro foi bem gasto.

Depois, porque a ideia de que o dinheiro que custaram os estádios e o resto da festa podia ter sido usado para tirar o país do seu atraso crónico é falaciosa. Não é por construir mais escolas que se melhora a educação, não é por haver mais hospitais que a saúde fica mais saudável; nem tudo se resolve com obras de betão, com o Estado a atirar dinheiro para os problemas.

Sobretudo, nós temos obrigações para com o resto do mundo. Da mesma forma que mandamos os nossos marretas para as festas organizadas pelos outros (os Euros, os Mundiais, os Olímpicos), também nós já tínhamos obrigação de organizar a nossa festa para os estrangeiros; já não somos assim tão pobrezinhos.

A imagem do país no estrangeiro melhorou incomensuravelmente com o Euro. Organizar um torneio destes de uma forma impecável vale prestígio; imaginam um Euro na Roménia, ou na Albânia? Para quem se importe com a imagem da nação lá fora, o Euro é uma coisa inestimável.

E até para a nossa vida cívica o Euro foi bom. É o efeito Expo; quem tenha ido a um dos novos estádios já nunca mais se satisfaz com coisas feias e feitas em cima do joelho. O Euro aumentou o nível de exigência, e não só para o futebol; quem foi aos estádios já não aceita tão facilmente mamarrachos horríveis ou serviços incompetentes.

Mesmo assim houve os conselheiros Acácios habituais. Admito que também me irritaram as bandeirinhas e os locutores de televisão com cachecóis (esta irritação parece que está na moda). Achei que os portugueses passaram ao lado do que era realmente bom no Euro por causa da obsessão com a selecção.

Mas as pessoas ficaram genuinamente contentes com a selecção, e dava-lhes real felicidade pôr a bandeirinha. Eu, que me estou bem nas tintas para a selecção, não partilhei muito dessa alegria, mas também não olho de alto para os que ficaram alegres.

Para parte da nossa classe intelectual, que detesta o país que tem, isso causou comichão ? porque é que este povo burro fica tão contente com isto da bola, eles não percebem como nós iluminados que isto da bola é só Circo? Ora porra, Pão é bom e Circo também, deixem-nos estar contentes em paz.

domingo, julho 11, 2004

Poesia de mercado



Os chineses são fabulosos. Além de produzirem tudo aquilo que se faz no Ocidente com a mesma qualidade por um décimo do preço, juntam-lhe um pouco da sua cultura em cada peça manufacturada, transformando-a numa obra de arte. Recentemente, comprei uns baratíssimos e modernos calções de praia da marca Winner, produzidos pela Mengtianma Co.,Ltd., uma pequena empresa, que dá emprego a 150 pessoas. Uma etiqueta em cartão colorido presa aos calções por um fiozinho de plástico trazia o seguinte poema xiaoling, traduzido para inglês (a transcrição meticulosa do ND é fiel à criatividade linguística e refinada beleza do original):

"This superfine gar ment for sucessful person.
The sucessful person's sports & casual garment,
The fashional style makes you feul your sey
being out of ordin ary.
The sucessful person comfirm the brard
with their firm faith
As a symbol of fast & quality,the
sucessful person's orts & casual garment
its new image.

The modern style designing, exquisite
fabric material, brand new imported
facilities,and delicate work manship
makes every suessful person feel comfortable
and much honourable in any places.
This is very popular among thoes
who have ar excellent taste.

Winner"

sábado, julho 10, 2004

Espanhol para descuidados



Pessoal. Falar espanhol não é apenas duplicar todos os eles das palavras. Há vocábulos na língua de Cervantes que só têm um ele. Os eles duplos em espanhol têm o som do "lh" português ou, muito instituído na língua falada, um som semelhante ao "j" luso. Mas em Espanha também há o som do ele sozinho e igualzinho ao nosso, que se grafa da mesma maneira. Escreve-se soledad e não solledad, calamares e não callamares, Segurola e não Segurolla...

sexta-feira, julho 09, 2004

Euro post-mortem 3 * o espírito de Péricles



Também gostei muito da Grécia. Ganharam:
#ao país organizador (duas vezes)
#ao campeão em título
#à melhor equipa (no prolongamento, e golo de prata é uma coisa gay que ainda bem que vai acabar, mas ganharam, pronto)

Nunca ninguém tinha feito coisa igual. Pode haver dúvidas de que mereciam ser campeões? Anda agora tudo a queixar-se de que eles não jogam nada, que aquilo é futebol parasita, que é mau para o espectáculo e etc.

Isso é paleio de chacha de teóricos da bola tipo Valdano (o Valdano é um antigo avançado argentino que vivia dos passes do Maradona, há dez anos que refila que o futebol está a ficar chato porque os "artistas" não têm liberdade de acção, é director técnico do Real Madrid, inventou os galácticos, está tudo dito).

A Grécia a jogar lembrava-me o FCP deste ano. Com a diferença que o FCP tinha quatro jogadores soberbos, e os gregos não tinham nenhum. O que dá ainda mais valor à vitória deles.

Eram unidos, ultradisciplinados, concentradíssimos. Jogavam muito. E nem precisavam de dar muita cacetada ou de fazer anti-jogo.

Quem me dera ter tido uma assistência de Hermes (deus do jogo) e metido uma aposta nos gregos. Já agora, por falar em FCP, tomem lá do Mourinho:

"Quando vejo pessoas a criticar o estilo de jogo dos gregos e a dizer que não é normal que uma equipa como a Grécia se torne campeã europeia, eu digo exactamente o contrário. Sem estrelas, sem jogadores vindos da Lua, só bons futebolistas, boa organização táctica, jogar para o resultado e para a alegria dos adeptos gregos".

Hellas! Hellas! Hellas!

quarta-feira, julho 07, 2004

Euro post-mortem 2 * A apologia de Sócrates



Sócrates o brasileiro, o que inventou os golos com toques de calcanhar. Tinha tanta barba como o grego e era um jogador bestial. Houve uma série de momentos à Sócrates neste Europeu, daqueles que um gajo se lembra para o resto da vida. Os meus favoritos:

*Paragem cerebral inglesa
Nunca vi um jogo tão mal perdido como o Inglaterra-França. Os ingleses dominam o jogo todo e depois cometem uma série de erros inacreditáveis.

É o Becas a falhar um penalti; o Heskey a fazer uma falta imbecil; o Calamity James a deixar uma bola de livre entrar pelo lado dele; o Gerrard a fazer um passe para o Henry. Porra, que só faltava pegarem na bola e metê-la na baliza pelos franceses.

*Cuspidela do Totti
Porque nenhum torneio a sério passa sem estas coisas. Em 2000 e 2002 tiveram de ser os portugueses a tratar da coisa - o Rui Jorge e o Chewbacca a oferecer porrada ao fiscal de linha, depois o João Pinto e o hematoma do árbitro.

Este ano foi o Totti, o que rendeu ainda o melhor cântico de adeptos no Euro, o dos suecos no Itália-Suécia: "Totti, Totti, pffuit, pffuit, pffuit!"

*Golo do Larsson contra a Bulgária
Golaço, o homem parecia que voava.

*República Checa-Holanda
Que ganda jogo, porra. E o golo do Baros? Todos juntos a cantar com os checos: Mi-lan Ba-ros! Mi-lan Ba-ros!

*Itália-Bulgária
Ora os dinamarqueses e os suecos fazem o arranjinho, mas os italianos em campo não sabem, e o Cassano marca no último minuto, e durante dez segundos anda a correr em êxtase, até que chega ao banco e lhe contam, olha, não serviu para nada. Maledettos!

*Trapattoni lixa-se
Confirmou-se como o pior treinador da Itália de sempre, tinha a melhor equipa do torneio mas foi eliminado por ter a mania de defender o 1-0, e agora vai ser treinador... Ha ha ha... treinador do... Ha ha ha ha ha ha...



*O Becas falha outro penalti.
E é que toda a gente já sabia que o gajo ia falhar, mas o mais engraçado foi vê-lo levantar três quilos de terra com o chuto.

*O Ricardo tira as luvas
Ah, valente!

*O penalti do Postiga
É preciso ter uns tomates do tamanho de melões para marcar um penalti daqueles num momento daqueles.

*Os maus treinadores são todos punidos
O Trapattoni foi logo. O Santini teve uma sorte do caraças, mas apanhou com os gregos e rua. O burro espanhol teve a humilhação de ser eliminado por um golo do Champô Linic. O Advokaat ainda se aguentou, mas a imprensa holandesa caiu-lhe em cima com tanta força que ele até andou de roda.

Tive pena do Voller, que não tem culpa de os alemães, em 80 e tal milhões de cidadãos, só conseguirem produzir três jogadores de futebol (o Khan, o Ballack e o curiosamente chamado Schweinsteiger).

*Os nomes dos gregos
Pois que Dellas é fácil e Charisteas também, mas deve ser lixado fazer t-shirts de gajos com nomes como Giannakopoulos ou Papadopoulos. Ainda por cima no alfabeto grego.

*O golo do Dellas
Os checos eram melhores, jogavam muito, mereciam ter ganho, mas toma lá, 115 minutos e meio, de canto, pumba somos gregos e vamos à final.

terça-feira, julho 06, 2004

Euro post-mortem 1 * as fossas nasais de Zeus

A comunicação social ignorou o assunto quase por completo, mas nas últimas semanas houve um Europeu de futebol em Portugal. O Núcleo, determinado a quebrar a cortina de silêncio, inicia aqui uma série de reflexões sobre o evento.

Primeiro: aquilo correu muito bem.

Os estádios estavam prontos a tempo, a organização era eficiente e cuidadosa, não houve sequer grandes pancadarias.

Os estrangeiros eram muitos e divertidos (prémio simpatia: os holandeses; prémio devoção: os checos; prémio gajas boas: as russas, dizem-me, embora eu vote nas dinamarquesas).

Até os ingleses decidiram dividir-se entre os bons (a maioria) e os maus (foram todos partir Albufeira - voltem quando quiserem). Até este gajo levou nos cornos.


A qualidade do futebol variou, mas o torneio não foi nada mau e teve grandes momentos. E embora andasse tudo obcecado com a selecção, mesmo com a nacional-bandeirite deu para ter um ambiente animado e alegre. Parecíamos um país europeu a sério.

Seguindo o espírito do ND, parece-me essencial no entanto notar o que correu mal, os três macacos nas fossas nasais do Zeus-Euro:

UM * As realizações televisivas. Parece que eram feitas por uma firma estrangeira contratada pela UEFA, mas podiam ser portuguesas. Em vez de mostrar o jogo, toca de mostrar repetições de faltas a meio campo ou de bolas que saem para canto.

À custa disso, ninguém viu em directo o melhor golo do torneio - o do Maniche contra a Holanda. Momentos como o Ricardo a tirar as luvas contra a Inglaterra ou o Totti a cuspir no dinamarquês - também não se viu, porque a realização estava à procura de gajas na bancada.

DOIS * O palhaço da final. O marmelo que entra em campo a correr e vai espetar a bandeira do Barça na cara do Figo. Chama-se Jimmy Jump, é profissional desta merda, tem um site e tudo, mas nem pensem que aqui se mete o link para o animal.

Foi uma das grandes falhas do Euro: tinha sido tão lindo que os jogadores portugueses aproveitassem o atrasado mental para descarregar as frustrações. Que oportunidade perdida, era tão bom ver o Ricardo Carvalho e o Nuno Gomes a arriar em grande no palerma, em vez de deixarem o correctivo para os ?stewards? e a PSP.

TRÊS * A falta de imaginação da imprensa para títulos. Quer dizer, a Grécia vai longe pela primeira vez na história, e é só uns trocadilhos meio frouxos sobre o Homero ou tragédias gregas ou o Monte Olimpo. (E não é só a imprensa. Até neste espaço augusto ainda não vi, digamos, o aproveitamento necessário).

Então e Eurípides, e Édipo, e Alexandre o Grande, e Aristófanes, e Demóstenes, e a Ágora, e o Partenon, e a guerra do Peloponeso, e Aristóteles, e Hera, e Aquiles?! Que potencial infindável para trocadilhos de mau gosto. Que oportunidade desperdiçada. O ND tentará corrigi-la neste espaço.
Ar puro

Respira-se melhor em Portugal, agora que o Euro acabou e a selecção perdeu.
Ar puro

Respira-se melhor em Portugal, agora que o Euro acabou e a selecção perdeu.

segunda-feira, julho 05, 2004

Euro 2004: O balanço necessário



Confesso que no início deste Europeu temia o pior. Os jogos de preparação faziam adivinhar que Portugal não iria muito longe. Já me dei por satisfeito por termos passado da primeira fase. Daí para a frente, tudo foi lucro. Só perdemos na final, com uma equipa tacticamente espectacular, que foi dando lições aos seus adversários do início ao fim do torneio. A Grécia é um justíssimo campeão e se Portugal não tivesse sido o outro finalista era por eles que tinha torcido. Hellas!!!

A parte má: a satisfação geral com a organização da prova e com a prestação da equipa vai cimentando o terreno para que se perpetue o reinado de D. Gilberto Madaíl, "o Idiota". Tá tudo aí contente e de parabéns, mas a "porcaria da Federação" de que falou Carlos Queirós aqui há uns anos continua aí a tresandar. E já fez merda: renovou com o seleccionador.

O Felipão é um tipo carismático, não há dúvida, e tem autoritarismo que baste e uma sorte do caraças. Tirando isso, é um péssimo treinador e as suas equipas jogam mal. As únicas vezes que vi uma equipa do Scolari jogar bem foi Portugal neste Euro, nos jogos em que o teimoso brasileiro decidiu finalmente colocar de início o contingente do FC Porto, que joga de olhos fechados. O Brasil com que o técnico venceu o Mundial era uma equipa horrível, que teve dificuldades inconcebíveis em se apurar para a prova e uma sorte inacreditável que a acompanhou até levantar o troféu.

Já toda a gente fala do Mundial da Alemanha, mas esquecem-se de que ainda é preciso passar pela fase de apuramento. O grupo A inclui Rússia, Eslováquia, Letónia, Estónia, Liechtenstein e Luxemburgo. É, parece fácil. Mas o problema é mesmo esse. Portugal é péssimo a assumir em campo a condição de favorito. Não sou um pessimista. Mas há algo no ar que me diz que se aproximam tempos difíceis para a selecção. Espero estar enganado. Aproveito para perguntar aos gregos se não querem trocar o Rehhagel pelo Felipão. Oferecemos o Rui Jorge e o Beto de bónus.

sábado, julho 03, 2004

Voucher não vale



Os portugueses adoram usar estrangeirismos, sobretudo quando não são necessários. É chique, sei lá... A última palavra obsoleta que apareceu aí em força é voucher.

Acabei de ver uma reportagem da RTP, a propósito de umas filas que as pessoas estavam a fazer aqui em Lisboa para trocar o seu voucher por um bilhete para o jogo da final do Euro 2004. O mais engraçado foi reparar como cada um dizia a nova palavrota à sua maneira: "vúcher", "váucher", "vócher" e até "vochere" foram algumas das formas constatadas.

Voucher é inglês e quer dizer tão somente vale. Isso que tu tens aí para trocar por um bilhete é um VALE, seu ignorante do caralho. Tugas!...
Os senegaleses da Ilha do Sal



O calçadão que separa a zona dos hotéis do areal é o território dos senegaleses, proibidos pela polícia de importunar os turistas na praia. Homens de pele muito escura, destinguem-se facilmente dos achocolatados cabo-verdianos. E são os piores vendedores e os seres mais chatos que alguma vez conheci.

O primeiro que vimos foi uma mulher gorda, com um vestido largo e berrante, que tentou fazer trancinhas à minha namorada, por 20 euros. Pareciamos então compreender os avisos do empregado do hotel: "Cuidado com os senegaleses! Não falem com eles." Mas a coisa ainda ia piorar. Com os seus sacos cheios de tartaruguinhas e máscaras de madeira, caem sobre os turistas como moscas sobre vacas. E não há rabo que as consiga sacudir. A táctica é sempre igual e parecem ter todos andado na mesma escola. "Ciao!", tentam primeiro, desejando que os destinatários sejam italianos. "Po'tuguez?", continuam a tactear.

Se não forem absolutamente ignorados, como se simplesmente não existissem, são capazes de acompanhar os turistas durante quilómetros, na tentativa sôfrega de vender uma bugiganga qualquer por 10 euros. Um simples "olá" e dificilmente o europeu se livrará de ouvir toda a história mentirosa do senegalês, que no seu crioulo com sotaque francês, contará com olhos de cãozinho abandonado que é um artesão, que veio da Praia ou do Mindelo, e que ainda não vendeu nada hoje. "Po' favô', tenho fome."

A dada altura desta visita à Ilha do Sal, após a vitória de Portugal sobre a Rússia (2-0) para o Euro 2004, que vimos em directo pela televisão com os comentários de um animado locutor cabo-verdiano, decidimos percorrer o calçadão até à vila de Santa Maria. Um batalhão de snipers das tartaruguinhas foram-nos bombardeando durante todo o passeio. Já na aldeia, o assédio não foi mais suave. Os próprios locais, pareciam seguir o exemplo dos senegaleses. Deparámos com um pequenito, aos saltos, que ainda se iniciava na arte da chateação:

- Olha, compra-me esta tartaruga. Ajudem que tenho fome. Anda. Não vendi nada hoje. Compra, compra, compra. Pa eu cume uma sande. Vá, compra. Eh, vocês não ajudam!...

E dizendo isto, afastou-se. Mais tarde, preparávamos o espírito para enfrentar novamente o calçadão ao voltar para o hotel, quando vimos o mesmo puto na areia, a brincar com um amiguinho. No mesmo instante, aborda-nos um adulto, já muito mais aperfeiçoado na lábia, embora visivelmente tocado por qualquer coisa etílica:

- Ora, muito boas noites. Então, a nossa selecção ganhou!? Hoje é tudo mais barato. Tenham a bondade. Permitam apenas que lhes mostre...

Dizia isto sem conseguir deter a nossa marcha, quando foi interrompido pelo nosso amiguinho:

- Eh, não vale a pena! Esses aí não gostam de ajudar!

A última coisa que ouvimos foi o som de um tabefe paternal que parecia entregar na nuca do pirralho a mensagem: "Seu burro! Acabaste de me estragar o negócio."

sexta-feira, julho 02, 2004

Um mau português

Um destes dias, atrevi-me a dizer, meio a sério meio a brincar, que não era grande adepto da selecção portuguesa e que não fazia especial questão que ganhasse à Holanda. Foi o suficiente para se desencadear um pequeno motim e fui logo arrumado como um «mau português». Assim mesmo, um «mau português».
O Meireles, que não paga impostos mas anda de bandeirinha no carro, é um bom português. O Silva, que conduz que nem um louco mas anda de lenço da selecção na cabeça, é um bom português. A D. Maria, que leva o cão a cagar nos passeios mas anda de cachecol de Portugal atado à carteira, é uma boa portuguesa. O Simões, que bate na mulher mas vai para a rua buzinar depois de cada vitória de Portugal, é um bom português. O Sousa, que não paga aos ucranianos que trabalham na empresa de construção mas foi ao Estádio da Luz apoiar a selecção, é um bom português. Etc, etc, etc.
Eu, que trabalho honestamente, pago os impostos todos, ajudo as velhinhas a atravessar as passadeiras, sou civilizado no trato com os outros (inclusive na estrada), não cometo crimes e não deito lixo para o chão, sou um mau português. Tá certo!
Hellas!



Custou, mas fiquei fã da Grécia. É verdade, jogam feio e não têm grandes jogadores, mas merecem estar onde estão. Venceram o país organizador, o campeão em título e a melhor equipa da competição, e tudo sem penalties roubados nem golos anulados.

Os jogos dos gregos são chatos, mas ninguém corre mais que eles, e se é verdade que eles jogam feio, também é verdade que não são violentos e não lhes dá para tácticas de país pequenino tipo, por exemplo, o guarda-redes fingir que lhe partiram as pernas com um taco de basebol dez vezes nos últimos minutos para gastar tempo.

Ainda por cima, os adeptos gregos são uns gajos simpáticos. Se a Grécia ganhar no domingo, não fico lá muito triste. Aliás, como se pode reparar pela decoração destas páginas, este blog também está com uma veia helénica.