Queda das roupas
Tão importante como a queda das folhas no Outono, assistimos nesta época do ano a outro fenómeno da natureza que, embora semelhante, usa mais do que as cores quentes de pastel (menos para o Ernesto que é daltónico e vê mal).
Nestes meses primaveris, assiste-se à queda das roupas nas mulheres que, como árvores de porte frondoso, deixam revelar a nudez dos seus ramos e dos seus troncos. Algumas mulheres são típicas portuguesas, oliveiras robustas que se fixam na terra agreste e desafiam os olhares. Outras são mais eucaliptos, secam tudo à volta para aparecerem mais altas altas, longas pernas e olhar elevado. Outras parecem pinheiros bravos, com a pele resinosa e peitos desafiantes como copas que se acendem em mecha num qualquer fogo de Verão. Existem as caducas que optam pelos trajes minimalistas e aquelas que mostram ter vestuário perene e só a sombra dos ossos da traqueia é encarada como um decote indecoroso.
A faculdade de letras de Coimbra era um desses mostruários de mudanças climáticas nas roupas. A queda das roupas revelava os corpos escondidos durante o Inverno, indiciando nalguns casos surpresas e noutros desilusões. Aquele olhar maroto escondido no pólo de malha justo com o rebordo do soutien durante os meses de frio afinal não passava de carne mole e pastosa agrilhoada na roupa que agora é exposta às agruras do calor. Pelo contrário, aqueles dentes-de-leão defendidos por muralhas de roupa e de casacos afirmavam-se agora viçosos e orgulhosos, expondo a macieza da pele e a rigidez das formas, como símbolos de uma feminilidade que parecia até então não existir.
Hoje, numa escola superior de educação do centro do país, enquanto esperava por uma professora para recolher declarações sobre um curso inovador (dizem eles), apreciei como o fascínio do desconhecido ainda permanece, apesar dos canais Sexy Hot, Sleazydream ou Vénus. Embora divas como Silvia Saint, Veronica Zemanova, Kelly Trump ou Vanessa del Rio demonstrem que o mundo feminino já nada mais pode expor, reparei no comportamento dos homens que apreciavam duas flores sentadas no banco do jardim da escola.
Uma de calções justos e apertados, de cor clara que indiciavam, embora sem o confirmar, um fio dental modesto. A outra, de saia preta comprida, com uma racha também ela comprida até a meio do fémur, encimada por três botões dourados e redondos que pareciam selar uma encomenda de correio prioritário. As duas de perna cruzada deixavam entrever sombras do paraíso mas limitavam-se a ignorar os olhares mais ou menos evidentes dos cromossomas Y que por ali passavam. Uns mais de soslaio (os professores), outros de forma evidente (os putos) e outros fingindo nem reparar (os namorados).
Curiosamente, este meu breve estudo de campo confirmou a minha premissa inicial que os calções coarctam a imaginação masculina. Isto porque nos calções existe um limite último que é definitivo: o remendo de pano que se transforma no rio Letes da nossa imaginação, impedindo-nos de subir ao Inferno ou descer ao céu, conforme o caso.
Pelo contrário, os maiores torcicolos ou olhares vesgos (com riscos de descolamento da retina) eram dirigidos para a jovem de saia e racha comprida. A ilusão de chegar mais longe, onde nenhum olho chegou, terá levado mais cromossomas Y a disputar o lugar ao sol naquele jardim, com sucessivas passagens e repetições, algumas delas em câmara lenta.
Eu ainda tentei aprofundar mais a minha tese mas a dita docente, uma senhora respeitável que já terá sido também um nenúfar que algum jardineiro colheu (ou não), chamou-me e perdi aquele momento fugaz de eternidade. Quando saí da breve entrevista (ainda mais breve devido à minha pressa inaudita) os dois canteiros plantados no banco do jardim já de lá haviam saído e com eles a concretização da minha tese.
10 comentários:
Grande Cablogue! És o nosso Luís Fernando Veríssimo
Por vezes vou até a uns hotéis, e como conheço lá os empregados, pergunto sempre se a última fornada de mulheres que lá chegaram vale a pena...Se forem pitinhas daquelas que só pensam em discotecas e fumar merdas, bazo logo! Prefiro gajas mais maduras!
eu é que ia para um hotel com o tiberius, ai ia ia
Os posts da Ana Luísa já me estão a chatear. Mais uma dessas merdas e eu armo aqui uma escandaleira como o Carcaça no caso do (censurado), e dos (censurado) por causa do (censurado).
Você não quer ser publicado?
parece-me que o tiberius já tem um contrato com as edições d.pixote. Hi, hi, esta foi mesmo vulgar...às vezes também gosto...
Eça vive!
Revelando-se um autêntico observador privilegiado da sociedade contemporânea, num estilo próximo da reportagem, ElCablogue eleva-se desta forma a um elevado patamar linguístico, que o coloca a par da melhor produção literária nacional.
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