Euro post-mortem 1 * as fossas nasais de Zeus
A comunicação social ignorou o assunto quase por completo, mas nas últimas semanas houve um Europeu de futebol em Portugal. O Núcleo, determinado a quebrar a cortina de silêncio, inicia aqui uma série de reflexões sobre o evento.
Primeiro: aquilo correu muito bem.
Os estádios estavam prontos a tempo, a organização era eficiente e cuidadosa, não houve sequer grandes pancadarias.
Os estrangeiros eram muitos e divertidos (prémio simpatia: os holandeses; prémio devoção: os checos; prémio gajas boas: as russas, dizem-me, embora eu vote nas dinamarquesas).
Até os ingleses decidiram dividir-se entre os bons (a maioria) e os maus (foram todos partir Albufeira - voltem quando quiserem). Até este gajo levou nos cornos.
A qualidade do futebol variou, mas o torneio não foi nada mau e teve grandes momentos. E embora andasse tudo obcecado com a selecção, mesmo com a nacional-bandeirite deu para ter um ambiente animado e alegre. Parecíamos um país europeu a sério.
Seguindo o espírito do ND, parece-me essencial no entanto notar o que correu mal, os três macacos nas fossas nasais do Zeus-Euro:
UM * As realizações televisivas. Parece que eram feitas por uma firma estrangeira contratada pela UEFA, mas podiam ser portuguesas. Em vez de mostrar o jogo, toca de mostrar repetições de faltas a meio campo ou de bolas que saem para canto.
À custa disso, ninguém viu em directo o melhor golo do torneio - o do Maniche contra a Holanda. Momentos como o Ricardo a tirar as luvas contra a Inglaterra ou o Totti a cuspir no dinamarquês - também não se viu, porque a realização estava à procura de gajas na bancada.
DOIS * O palhaço da final. O marmelo que entra em campo a correr e vai espetar a bandeira do Barça na cara do Figo. Chama-se Jimmy Jump, é profissional desta merda, tem um site e tudo, mas nem pensem que aqui se mete o link para o animal.
Foi uma das grandes falhas do Euro: tinha sido tão lindo que os jogadores portugueses aproveitassem o atrasado mental para descarregar as frustrações. Que oportunidade perdida, era tão bom ver o Ricardo Carvalho e o Nuno Gomes a arriar em grande no palerma, em vez de deixarem o correctivo para os ?stewards? e a PSP.
TRÊS * A falta de imaginação da imprensa para títulos. Quer dizer, a Grécia vai longe pela primeira vez na história, e é só uns trocadilhos meio frouxos sobre o Homero ou tragédias gregas ou o Monte Olimpo. (E não é só a imprensa. Até neste espaço augusto ainda não vi, digamos, o aproveitamento necessário).
Então e Eurípides, e Édipo, e Alexandre o Grande, e Aristófanes, e Demóstenes, e a Ágora, e o Partenon, e a guerra do Peloponeso, e Aristóteles, e Hera, e Aquiles?! Que potencial infindável para trocadilhos de mau gosto. Que oportunidade desperdiçada. O ND tentará corrigi-la neste espaço.
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