quinta-feira, novembro 06, 2003

Vamos falar a sério sobre jornais

Tenho muitas teorias que aqui não exponho mas irrita-me a forma como alguns jornais, ditos sérios, fazem da nomeação de um director um filme de terror.

Porra o DN é só o quinto diário do país, a caminho de ser ultrapassado pela Capital. Para que é que se preocupam com isso? Outras enormidades institucionais como os velhinhos Século ou Diário de Lisboa acabaram. Se calhar o jornal-de-referência-mais-tablóide-que-conheço vai morrer de morte natural e o Fernando Lima é o seu coveiro. Ou não.

Se calhar o senhor até é competente e merece o lugar. Irrita-me, isso sim, o discurso paternalista e esquerdóide que um jornal de referência faz deste caso, com um folhetim diário, quase como uma rubrica. É para bater no DN, vamos bater todos, parece a regra que chegou ao Público. Esquecem-se é que o seu director (como outros, aliás) fazem tantos fretes ao Governo como fez o Fernando Lima, só que de uma forma mais idiota porque não recebem salário. Não concordo com o jornalismo engajado ideologicamente mas irrita-me a colagem dos jornais nacionais ao Governo (numa lógica de seguir a onda). Os jornais apluadem agora todas as boas medidas e minimizam as asneiras. Do mesmo modo não vou tolerar que, quando o Executivo cair em desgraça, seja a imprensa a primeira a morder as mãos de quem lhes deu de comer. Isso sucedeu ciclicamente com Cavaco e Guterres, apenas para recordar os tempos mais próximos.

Por isso, admito que faça falta um novo diário de vocação de esquerda, pelo menos para contrabalançar o comodismo direitista, embalado pelos slogans do Portas e as poses do Durão.

Pelo meio, ao que ao jornalismo diz respeito, não gosto de ver o Fernando Lima na direcção do DN, como não gostei da tansferência directa de muitos jornalistas de política (sublinho, de política) para o novo Governo, depois das últimas eleições. Por isso penso que deveria haver um período de nojo antes de qualquer transferência entre profissões consideradas incompatíveis pela lei. Já agora, defendo que as incompatibilidades consagradas no estatuto de jornalista fossem alargadas para impedir situações complicadas, nomeadamente na imprensa regional. Sabiam que um chefe de gabinete, um vereador a meio-tempo ou um deputado municipal pode ser, de acordo com a lei, ao mesmo tempo jornalista, com carteira profissional?

Mais preocupado fico é com a entrega da carteira profissional de algumas vedetas do jornalismo televisivo por TRÊS DIAS para fazerem publicidade. Beneficiam do estatuto social obtido enquanto jornalistas para vender óleo de fígado de bacalhau ao Zé Pagode. Depois voltam à profissão, como se nada fosse. Neste caso, julgo que uma simples adenda à lei que preveja a existência de incompatibilidades, enquanto o anúncio for exibido, seria suficiente. É que a senhora Manuela Moura Guedes filma a publicidade sem ser jornalista mas quando o filme for exibido nas TV, rádio e cassete pirata ela já é de novo jornalista.

Sem comentários: