sábado, setembro 24, 2005

Alta Arte
Cidades coincidentes

Dois filmes excelentes. Duas cidades diametralmente opostas retratadas em dois filmes igualmente bem conseguidos em termos gráficos. Curiosamente, dois filmes que surgem de livros também diferentes entre si, mas igualmente bons. O primeiro é Obaba, de Montxo Armendáriz.



Seria inútil e recorrente comparar o filme com o livro em que é baseado. Tive a sorte de ter uma amiga basca que me presenteou um dia com uma edição em castelhano de "Obabakoak", de Bernardo Atxaga. Pequenas estórias pessoais entrecruzam-se de forma brilhante compondo o 'puzzle' que retrata uma pequena povoação esquecida do País Basco. O filme não é uma transposição fiel do livro, mas uma adaptação, em que Armendáriz cria outras personagens, como a protagonista. O melhor do filme é, no entanto, retirado do livro - o miúdo que introduz um lagarto no ouvido de um colega, provocando assim a sua progressiva loucura; a professora que espera uma carta que nunca chega; o filho do alemão, etc... A originalidade da filmagem, com planos belíssimos enriquecidos graficamente, é uma mais-valia.



Contraposta à pacatez de Obaba, Sin City é uma grande urbe dominada pela violência e todo o tipo de vícios. O filme de Robert Rodriguez e Frank Miller, o génio da banda desenhada celebrizado pela graphic novel "Batman, o Cavaleiro das Trevas", é também de um grafismo riquíssimo. Na verdade, acaba por viver disso. Isto porque a sua grande nota distintiva é o facto de recriar no ecrã histórias da série "Sin City" (retiradas de três livros) de uma forma o mais fiel possível ao traço de Miller. O resultado faz com que o espectador se sinta exactamente como o leitor. O filme é como uma projecção de um livro de banda desenhada. A caracterização das personagens - especialmente de Marv (Mickey Rourke) - é fabulosa. A violência é atroz mas capaz de arrancar risos dado o descomplexo com que se assume um (ir)realismo só possível no mundo dos quadradinhos.

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