segunda-feira, setembro 12, 2005

Neste momento em que dou os primeiros passos numa nova viragem (mais uma) da minha vida, gostaria de me despedir do meu país falando daquilo que ele tem de melhor: a comida. Para tal, recupero uma rubrica meio esquecida aqui no nosso blog - Os Donos do Garfo - e introduzo uma novidade, ao avaliar dois restaurantes na mesma crónica (a opção justifica-se pelas intergastronomidades da oferta).

Os Donos do Garfo
Delícias na grelha

- Antepasto
Quando se fala em churrasco, dificilmente no mundo haverá páreo para o que se faz com a carne de gado zebuíno lá para os lados das Pampas. As picanhas brasileiras que já se tornaram populares em Portugal - apesar de muito aquém do nível médio do que se come no Brasil - são apenas a ponta de um espeto afiado, onde se enfileiram meia dúzia de restaurantes argentinos que vão pingando, pelo menos na capital. Mas há outros lugares capazes de oferecer diversos prazeres bovinos (e não só) e acrescentar a variedade proveniente das diferenças das raças e do preparo. Lembro-me do famoso chuletón degustado em terras asturianas e destas recentes surpresas visitadas no Nordeste lusitano, que passo a descrever.

- Primeiro Prato
Nome: O Montanhês
Género: Restaurante de comida regional transmontana
Local: Macedo de Cavaleiros
Preço: 13 euros (por pessoa)



Um espaço enorme, sala alta que combina uma opulência medieval com um brilho mundano, oferece o palco ideal para a estomatização de um suculento sortido regional de carnes grelhadas. O vinho da casa é competente na rega, enquanto uma salada simples e as batatas a murro dão a adubagem necessária ao plantio dos nacos, entrecostos e outras carnes assadas a carvão, no território gástrico. As quantidades exuberantes permitem a três glutões saciarem-se com uma dose alegatamente para dois, ao mesmo tempo que mantêm a conta aquém dos 15 euros, mesmo após o remate com um pujante, mas não enjoativo, pudim de ovos.

- Segundo Prato
Nome: Balbina
Género: Restaurante de comida regional transmontana
Local: Miranda do Douro
Preço: 10 euros



Mais português no dimensionamento do espaço interior e no serviço - uma única empregada serpenteia por entre a dezena e meia de mesas espremidas de forma hermética - o Balbina não se deixa bater pelo anterior na qualidade dos repastos e consegue o que parecia impossível: sai ainda mais em conta. O feijão verde cortado fininho triunfa numa simples sopa de legumes que prepara o estômago para o afago propiciado pela inevitável posta mirandesa, o prato principal. Um sumarento pedaço de carne de gado mirandês, tostado por fora e sangrante por dentro, tenro e de sabor suave, enche duas boas barrigas sem as deixar enfastiadas. Batatas a murro fazem companhia e são, de resto, as únicas espancadas neste restaurante. A carteira sai ilesa.

- Sobremesa
Um abraço a todos os compatriotas, amantes da boa mesa, em especial aos companheiros do Núcleo Duro. Aqui, desde terras castelhanas, a promessa de nacos de prosa inspirados pelas novas e futuras vivências.

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