terça-feira, fevereiro 03, 2004

Que é que Sade fazer?



Em "Os Cento e Vinte Dias de Sodoma", o Marquês de Sade relata de forma exaustiva os acontecimentos que têm lugar durante uma monumental sessão de deboche promovida por quatro amigos, quatro celerados que fizeram fortuna de forma obscura durante o reinado de Luís XIV e que a gastavam em orgias escatológicas. Obra inacabada (apenas os primeiros 30 dias estão concluídos, embora os restantes já estivessem delineados), este livro é um apanhado de perversões que se sucedem a um ritmo constante, com a virtude de se agravarem a cada página, num crescendo. Após ler esse livro, compreendi melhor todo o alcance da palavra "sádico". Como aperitivo, desafio qualquer um a tentar encontrar na literatura universal duas personagens mais nauseabundas do que estas duas (passo a transcrever):

"O presidente de Curval era o decano desta associação. Com cerca de sessenta anos de idade e singularmente gasto pelo deboche, parecia quase um esqueleto. Era alto, seco, delgado, olhos azuis e apagados, boca lívida e suja, queixo levantado, nariz comprido. Era todo coberto de pêlo, como um sátiro, tinha costas chatas, nalgas moles e caídas que mais pareciam dois trapos sujos pendurados no alto das pernas; a pele era de tal modo macerada, mercê das chicotadas, que se podia torcer com os dedos sem ele sentir nada. No meio, abria-se, sem ser preciso afastar as nalgas, um imenso orifício, cujo enorme diâmetro, cheiro e cor o tornavam mais semelhante ao buraco de uma latrina do que ao olho de um cu; e, para cúmulo, um dos hábitos perfilhados por este porco de Sodoma era conservar a referida parte do corpo em tal estado de imundície que tinha sempre em volta um anel de merda com duas polegadas de grossura. (...)"

"Chica era o nome da quarta (...) Tinha sessenta e nove anos. Era atarracada, pequena e gorda, vesga, quase sem testa e, na boca fedorenta, tinha só dois dentes velhos prestes a cair, tinha o rabo coberto de eresipela e pendiam-lhe do ânus algumas hemorróidas da grossura do punho; devorava-lhe a vagina um horroroso cancro e tinha uma das coxas completamente queimada. Durante três quartas partes do ano mantinha-se bêbada e, como o estômago que tinha era muito fraco, durante a embriaguez vomitava por todo o lado. O olho do cu, apesar das hemorróidas que o guarneciam, era naturalmente tão grande que ela se bufava e se peidava e fazia outras coisas sem dar conta. (...)"

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