segunda-feira, setembro 08, 2003

As canetas e as tampas

Depois de mais um interregno para umas bem merecidas férias – as primeiras pagas pela empresa em cinco anos – regresso a estas lides para vos contar uma breve história do quotidiano.
Como todas as pessoas que regressam de férias, jurei que iria arrumar melhor o meu escritório e organizar o meu tempo para conseguir ir ao ginásio ganhar aquele corpo esbelto que se esconde atrás das minhas banhas viscosas e moles.
Como todas as pessoas, decidi tentar arrumar o escritório, começando pelos papéis que, escorreitos e resistentes, teimavam em ocupar o espaço da secretária. Depois de várias selecções e subselecções em importante, médio importante, pouco importante, lixo, deitei a maioria no arquivo C (de caixote).
Após essa façanha, propus-me a arrumar as canetas e descobri um negócio de futuro. Já repararam como as tampas das canetas – quais pequenos gnomos com asas – fogem dos nossos locais de trabalho, como se roubadas por algum vilão? Estou mesmo a desenvolver uma teoria de que os ratos têm fixação em tampas bic e molin para actos sadomasoquistas e só os mais dotados é que tentam praticar sexo tântrico com as tampas uniball.
Bem, mudando de assunto, julgo pertinaz e adequado sugerir ao Sérgio Figueiredo, do Diário Económico, que aborde num dos seus próximos editoriais a falta de capacidade de resposta do sector caneteiro nos acessórios. Ora, se a Renault é obrigada a produzir jantes, pneus, suspensões e bancos em barda para satisfazer os clientes porque é que as marcas de esferográficas não fazem o mesmo com as tampas.
Se a teoria das canetas fosse aplicada nos carros, cada vez que mudássemos de escova do pára-brisas tínhamos de comprar um automóvel novo (além de que estes ficariam roídos na traseira devido ao nervosismo dos seus proprietários).
Deste modo, peço encarecidamente aos produtores de canetas que tenham em conta os interesses dos seus clientes e produzam tampas para aquelas coisinhas lindas de escrever que estão sozinhas nas nossas estantes (em copos idiotas calhados em rifas) porque as suas companheiras foram servir de vibrador a ratos sedentos de prazer.

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