A caneca do Ernesto é azul I
Isto estava a precisar de animação, e cá temos uma bela controvérsia. Infelizmente, o Ernesto bateu-lhe com a sua costela académica, e tentou logo elevar a coisa acima do nível de sarjeta, o que é mau. Vamos lá levar a conversa para o lugar dela.
Primeiro: diz o Ernesto...
Ao contrário do que o Tibas diz
...sem que eu tenha dito tal coisa. Não disse em lado nenhum que achava que a imprensa à maneira antiga é que era bom. Também acho muito bom que a imprensa tenha ultrapassado a fase em que todos os jornais eram militantes e alinhados.
Isso não significa que todos os jornais e todas as televisões tenham de ser uma espécie de castrati sem qualquer perspectiva política.
O Independente há muitos anos, quando começou, era um bom caso português. O jornalismo deles tinha muito que se lhe diga, e não serve de exemplo; mas o jornal, nessa altura, tinha uma inclinação clara - era de uma certa direita anglófila, tinha um conjunto de valores, uma perspectiva.
Nos seus dias bons, O Independente era um jornal com um ponto de vista, mas que batia na mesma nos seus presumíveis aliados políticos. Eu não acho mal que haja jornais com uma ideologia, como era O Independente nessa altura, desde que expliquem claramente ao que vêm e sejam honestos.
A melhor publicação que eu conheço é a Economist. A Economist tem um conjunto de princípios políticos muito claros. É pró-democracia, pró-mercados livres, pró-liberdade intelectual, pró-modernidade. Tem uma ideologia humanista, libertária e liberal (no sentido clássico da palavra).
Isso não impede que a Economist seja excelente, rigorosa e perfeitamente independente. Muitos dos artigos da Economist são editorializados - por exemplo, se eles estiverem a escrever sobre os antiglobalização (olá Carcaça), deixam bem claro que não são a favor dos antiglobalização. Se estiverem a escrever sobre o Robert Mugabe, deixam claro que acham o Mugabe um gangster doidivanas.
Mas isso não quer dizer que a Economist não explique seriamente aos leitores quais são os argumentos dos antiglobalização ou do Mugabe. Conta a história, dá todos os lados do assunto, e eventualmente acrescenta o seu ponto de vista. É honesta e respeita as regras de equidade. Ter uma ideologia explícita não a torna incompetente ou propagandística.
Nem todos os jornais nem todos as televisões devem ser como a Economist, não podem nem devem. Mas não há mal nenhum em que alguns jornais e algumas televisões sejam assim.
Da mesma forma, não tinha mal nenhum que a Fox News tivesse uma perspectiva; que fosse um canal de direita, com um certo número de princípios, com uma ideologia. Era isso que dizia o homenzinho que falava no artigo do pasquim citado pelo Carcaça.
O problema da Fox News é que a coisa não funciona bem: a ideologia contamina todos os aspectos do noticiário deles, a Fox não é isenta, nem honesta, nem responsável. Mas usar a Fox para teorizar sobre os media em geral também não é justo, porque a Fox News é um exemplo ímpar e desvairado de televisão tablóide.
E com isto nem cheguei à caneca do Ernesto, que sendo uma caneca das Caldas deve ser imprópria para menores, e sendo do Ernesto deve ser pequenina. Mas já lá vamos, já lá vamos.
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