A caneca do Ernesto é azul II
Uma caneca azul em cima de uma mesa não é sempre uma caneca azul em cima de uma mesa. Uma das primeiras lições que eu tive de jornalismo foi no ciclo, e valeu mais que as outras todas daí por diante.
O professor mostrou à turma um vaso com um manjerico - mas podia ser uma caneca, azul e tudo - e pediu aos putos para a descreverem. E nós descrevemos: é um vaso com um manjerico.
Depois o gajo virou o vaso. No lado que não estava virado para nós havia um autocolante, com uma mensagem qualquer lá escrita. Ou seja, quem estivesse a ver o vaso de frente descrevia uma coisa; quem visse o outro lado, descrevia uma coisa diferente.
A história da objectividade é como o vaso, e a caneca. Depende de onde está o observador. E como o observador não é um robot, a forma como ele vai descrever a caneca tem a ver com os conhecimentos, as inclinações, a ideologia dele.
Imaginem outra caneca azul. Imaginem que tinham uma estatística que dizia que há 100 milhões de pessoas com fome na China.
Descrevendo a caneca de uma maneira, pode-se escrever uma notícia assim: "Há 100 milhões de pessoas com fome na China."
Descrevendo a caneca de outra maneira, pode-se escrever a história assim: "Número de pessoas com fome na China reduziu-se 95 por cento em dez anos."
(Estou a inventar os números, não faço ideia de quantos chineses há com fome ou de quantos havia há dez anos, não interessa para o caso, os chineses estão aqui só a fazer de caneca ? caneca azul, atenção.)
Ambas as histórias seriam verdadeiras. Ambas as canecas seriam azuis. Ambos os observadores seriam honestos e estariam a contar a verdade. Mas, porque a perspectiva variava, uma caneca era mais azul que a outra.
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