A vida aos quadradinhos
O primeiro livro que eu li na vida foi um Pato Donald Especial, com uma história do Carl Barks sobre um castelo assombrado na Escócia. Foi na altura em que aprendi a ler, tinha uns quatro ou cinco anos, e na década seguinte não houve nada que me ocupasse mais tempo que as revistas de quadradinhos.
A minha parca semanada ia inteirinha para a editora Abril e para o dono da tabacaria da esquina (que, por ser o único lagarto na minha rua para além do meu pai, era conhecido na família como o Sportingueiro. Um grande bem-haja ao Sportingueiro, em cujo estabelecimento eu gastei muita massa mas também passei horas a fio à ler revistas à borla quando não tinha dinheiro e onde cheguei a, em momentos de fraqueza, furtar um Zé Carioca e um Homem-Aranha).
Durante muitos anos, consumia tudo o que fosse Disney (preferência para o Patinhas, o Donald e o Peninha), Asterix e Lucky Luke. Depois, na pré-adolescência, descobri o mundo Marvel e a minha vida passou a ser regrada pelos dias em que chegavam os novos Hulks, Homens-Aranha, Superaventuras Marvel ou Capitães América.
Então chegou a adolescência (um bocado tarde, mas chegou), e perdi o interesse. Os quadradinhos foram, física e espiritualmente, para a mesma arrecadação onde estão guardados os legos, os carrinhos da Matchbox ou os jogos de Futebol de Mesa (aqueles que tinham um gajo com a cara do Malcolm Allison na caixa, eu não tinha Subbuteo).
Passados mais dez anos, redescobri os quadradinhos (ou “comics” ou, na versão Lauro Dérmio, “livros cómicos”). Quando eu era puto, consumia tudo o que me chegasse à mão, mesmo que fosse a maior merda. E grande parte das coisas que eu lia (e relia até saber os diálogos todos de cor) eram de facto uma grande merda, embora me tenham passado pelas mãos obras-primas como as graphic novels do Frank Miller ou os “Watchmen” do Alan Moore.
Mas só agora é que tenho dinheiro para comprar comics a sério. E há coisas maravilhosas. Mesmo quem não goste de banda desenhada vai gostar dos livros do “Sandman”, do Neil Gaiman. Quase tudo o que Alan Moore escreve é óptimo, sobretudo o “From Hell” e a “League of Extraordinary Gentlemen” (ambos deram filmes, e os filmes são uma merda comparados com os livros, que não respeitam minimamente).
As histórias clássicas dos heróis Marvel, tal como foram escritas pelo Stan Lee, são milagres de imaginação e concisão. Toda a obra do Brian Bendis é divertida e original. O Sérgio Aragonés é um génio. Mesmo coisas mais série B como o Preacher ou os livros da Crossgen são melhores que 99 por cento do que aparece na televisão.
Pais de todo o mundo: não caiam na armadilha dos livros dos Cinco ou do Uma Aventura. O Harry Potter não faz mal a ninguém, mas se querem pôr os vossos putos a fazer alguma coisa para além da Playstation, dêem-lhes livros cómicos.
P.S: reparem, um post sem rubrica! Ainda pensei em começar uma rubrica nova com um nome espertalhão dedicada aos quadradinhos, mas acabei por decidir que o que é demais é demais.
1 comentário:
18� BD Amadora :)
Fant�stico! Um belo evento da Cidade Amadorense.
A Universidade de Y�ga da Amadora, recomenda a todos os seus alunos e amigos que visitem esta bela exposi�o.
Trazendo-nos moment�neamente de volta � inf�ncia, esta feira � para todos os adultos e crian�as, juntando assim v�rias e v�rias gera�es.
Sw�Sthya!
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