Há momentos que cansam
Hoje fui ver o Matrix II e saí de lá siderado. Somos mesmo joguetes desta treta que é a sociedade. De tão espremidos que estamos, já nem pensamos convenientemente sobre aquilo que fazemos. Gastei a porra de um bilhete (3.5 euros) para ver a primeira parte de um filme que, supostamente, deveria ser uma sequela completa. Afinal, fui comido e terei de, em Novembro, comprar mais um bilhete para ver o final da história que eu próprio já sei.
Se calhar é apenas a frustração a falar mas sinto-me roubado.
Li recentemente uma biografia do Marx e cada vez penso mais que o homem estava certo antes do tempo (apesar de ser um putanheiro e chulo do seu amigo Engels). Somos todos uma espécie de marionetas: vendemos a força do nosso trabalho para pagar o custo da nossa sobrevivência, enfeitada com lacinhos brancos e papel rosa pálido que nos fazem pensar que somos alguém. Apesar de tudo, ninguém abdica da sua vidinha de capitalistazinho-a-meter-para-o-apaneleirado, uma espécie de esquerda light, que não passa de uma forma dissimulada de cedermos o poder a esta direita hard.
Nunca, como agora, estivemos tão perto do nosso fim. E temo que, com o fim da história, todos pereçamos. Sodomizados entre filmes e conversas culturais com os nossos eurodeputados. Como se o mundo ainda dependesse do nosso voto e das nossas míseras acções na bolsa. Tá tudo fodido e os meia-dúzia de Rockefellers do tempo do Marx deram origem a poucas centenas de Ricardos Salgados que definem aquilo que vamos beber e vestir toda a nossa vida.
Se calhar é apenas a frustação a falar ou então a cerveja. Mas sinto-me cada vez mais perdido: uma casinha, uns filhos, um carro, umas bebidas, umas saídas culturais, umas caralhadas (como se dizê-las fosse um acto de rebeldia nesta sociedade filha da puta do caralho em que qualquer cabrão pensa que pode mandar foder toda a gente com apenas uma vírgula num decreto-lei). Enfim, esta é uma sociedade feliz. Como os cães e gatos também são felizes, sem saberem que o são.
A única diferença é que nós, em pequenos momentos de lucidez, apercebemo-nos que não o somos.
Quem me dera ser religioso. Ao menos tinha um propósito de vida.
Ou então um cão.
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