quarta-feira, junho 25, 2003

OS DONOS DO GARFO

Nome: Maria
Designaç?o: restaurante
Localizaç?o: Alandroal
Preço: 20 euros
Pontuaç?o: 9

No fim do mundo, perto do local onde os comunistas comiam criancinhas ao pequeno-almoço existe um o?sis de gastronomia que compete de igual para igual com qualquer outro grand chef da cozinha portuguesa. S? o percurso e o enquadramento justifica parte do preço e a espera prolongada faz com que um comer bom (muito bom, ali?s) se transforme em néctar divino. A vila de Alandroal n?o fica a caminho de nada e est? plantada a meio caminho entre o Alto e o Baixo Alentejo, onde n?o existe civilizaç?o desde os cartagineses. Para chegar l? s? ap?s hora e meia depois de ?vora, com muitas rectas e semi-rectas de plan?cie de chaparros e de rolos de feno.
O aspecto da casa é simples e tacanho por fora mas o seu interior abre-se como uma flor ao visitante incauto. A sala do repasto parece um p?tio nas traseiras de outras casas e nas paredes est?o pintadas as portas, existindo mesmo uma escadaria para uma porta como se fosse um acesso externo. Os lenç?is e os panos estendidos em cordéis comp?em um ramalhete surpreendente e agrad?vel.
Quando à comida, cumprem-se todas as elevadas expectativas geradas pelo tempo de caminho e pelo aspecto da sala. Um cozido franco sem o pretenciosismo da nouvelle cuisine e um bacalhau a nadar em azeite que sabe aos campos alentejanos, como se a Noruega fosse apenas um bairro de Serpa onde se vai comprar o peixe acabado de plantar. Para sobremesa, um pijama de doces com muitos ovos e aç?car numa overdose de calorias e de colestrol para os comensais.
No fim, a dona pergunta se tudo estava de acordo com os nossos desejos e uma aguardente caseira aquecida inebria o corpo, conquistando-o para uma nova visita.
Mesmo o preço final compensa todos os sacrif?cios. N?o sei o que comi ontem (por cinco euros) mas recordo com saudade o sabor e o travo daquele toucinho do céu.

Hei-de voltar. Um dia.

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