segunda-feira, junho 16, 2003

A pretexto da final da Taça de Portugal, de que só viu 20 minutos, Ernesto destila um ódio doentio e completamente irracional ao Porto. Ernestinho, não penses que não te compreendo: eu sou portista e também não gosto do Benfica; como tu, espumaria de raiva e inveja se o Benfica ganhasse o que o Porto ganhou este ano, e da forma como o fez: com enorme classe e demonstrando uma superioridade esmagadora sobre os rivais.

Todo esse ressentimento, além de nos deixar – a nós, portistas – muito orgulhosos e vaidosos, leva-te a dizer as mais despropositadas asneiras. Dizes: “O Leiria tentava jogar, via-se que estava a dar tudo por tudo, mas os jogadores do Porto conseguiram que a bola não estivesse muito tempo em jogo, demorando eternidades na marcação das bolas paradas, atirando a bola para longe, atrasando o reinício do jogo, inventando lesões (veja-se o Baía...). Tudo nas barbas do árbitro”. Para quem só viu 20 de 90 minutos, diga-se que é muita presunção tua tirar essas conclusões, como se os 70 minutos anteriores não fossem importantes para fazer uma apreciação justa ao que se passou durante o jogo.

“Quanto tempo efectivo o Leiria teve para poder mostrar que também sabe jogar (e sabe)”, dizes, sem saberes que o Leiria jogou uma final da Taça, a que apenas chega uma vez em 50 anos, para empatar 0-0, com uma multidão de defesas e trincos no seu meio campo e o Maciel a correr sozinho atrás das bolas despejadas pelo Silas para junto da área do Porto. Se alguém mereceu ganhar a Taça foi o Porto, que foi quem o tentou fazer logo desde o início, sem querer esperar pelos penalties.

“O Porto é uma equipa da arruaça, da arruaça portuguesa mais criminosa e sofisticada, educada (há muitos anos) segundo a filosofia do vale tudo” - não percebo por que dizes isso, sobretudo este ano: o Porto ganhou o que havia para ganhar com uma limpeza imaculada, sem favores de árbitros (houve até um jogo, no estádio do teu querido Sporting, em que foi espoliado de 4 penalties), sendo a equipa com mais golos marcados, menos sofridos e a jogar um futebol de ataque e de qualidade como nenhuma outra o fez. Os jogadores mandam bocas durante os jogos, inclusive aos árbitros? Mandam. Simulam lesões? Simulam (mas não tanto como outras equipas). Fazem-se ao penalty? Fazem (mas não tanto como o vergonhoso João Pinto). Mas não venhas dizer que os jogadores do Porto são os únicos a fazê-lo e que os do Benfica ou Sporting não o fazem, porque aí teria de deixar de te levar completamente a sério.

Por fim: o Mourinho é tudo o que tu quiseres, desde que continue no Porto a ganhar títulos. De resto, as tuas críticas são injustas: o Mourinho é arrogante, usa gel no cabelo..., mas tem aquilo que muitos treinadores (sobretudo os portugueses) não têm ou não são – é inteligente como poucos, sabe articular ideias, tem espírito de conquista, tem a experiência de trabalhar no estrangeiro...
“Rezo para que fuja daqui depressa”, dizes, beatificamente, a propósito do Deco: és tu, os restantes seis milhões de benfiquistas e os dirigentes e treinadores de várias equipas espanholas ou italianas...
Esperas que o Postiga não seja convocado para a selecção – és tu e todos aqueles que querem ver repetida a vergonha do último Mundial. A geração dos Figos e Ruis Costas teve várias oportunidades para ganhar competições e nunca o fez nem andou lá perto. É tempo de dar lugar aos outros: aliás, penso que a nova geração de jogadores é melhor que a geração anterior – agora sim, Portugal pode ambicionar a ter uma excelente equipa, com jogadores como o Quaresma, o Ronaldo, o Ricardo Carvalho, o Jorge Andrade, o Paulo Ferreira, o Tiago, o Ricardo, o Hugo Viana... e, lamento dizer-to, o Deco e o Postiga.

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