Mariazinha
(perdoa-me o diminutivo, mas é dito com carinho)
Ser jornalista é uma profissão como todas as outras. O que não quer dizer que seja necessariamente má, mas tem as suas regras e nem sempre existem condições ou tempo para fazer aquilo que nos dá mais gozo. Quando critiquei o Mexia foi no contexto da pretensa oposição que ele e outros iluminados (sem ser no sentido pejorativo) da blogosfera criaram entre a imprensa e os blogues. Admito que possa existir alguma rivalidade, oposição ou complementaridade entre os textos de opinião dos jornais e os blogueiros nacionais mas nunca com os jornalistas.
É que, na blogosfera mas também no resto da sociedade, confunde-se a árvore com a Amazónia e chama-se jornalismo a tudo, mesmo aquilo que não o é nem (se calhar) o pretende ser. Quisemos (eu e o Ernesto) colocar os .. nos is sobre esta matéria. Os blogues dão opinião, se bem que em muitos casos baseada em factos, tal como os opinion-makers na imprensa. Mas a imprensa tem um pormenor chamado notícia que não pode ser confundido.
Maria dixit: "A julgar pelos teus lamentos ser jornalista é a maior seca do mundo. Com a agravante que faz o que lhe mandam. Eu também sou jornalista. Há, claro, assuntos sobre os quais não nos agrada escrever. Mas este trabalho é mesmo assim e às vezes (não muitas) temos de engolir sapos".
Não tenho essa sorte. Engulo mais sapos (às vezes com nenúfar e tudo) do que aqueles que queria. E olha que não estou a falar de atentados graves contra a minha consciência com os quais (felizmente) nunca fui confrontado. Falo apenas de muitos comunicadozinhos da treta, declarações hemorroidais de cromos sem neurónios e políticos de pacotilha que dizem mal uns dos outros à frente mas depois convidam-se todos para os casamentos e despedidas de solteiro. Sem falar na tragédia do homicídio de faca e alguidar em que temos de saber pormenores ridículos apenas porque o chefe os quer mas nunca levantou o cu para ver o país real.
Estou farto mas reconheço que é isto que a sociedade nos dá para noticiar. E quando damos o passo para a opinião deixamos de ser olhados pelos leitores como um relator de factos mas apenas mais uma da estrelas dessa constelação de vaidades que pululam nas páginas, com fotografia no canto do texto (em poses um pouco rotas, como diz o Pipi).
Deixei-me de ilusões o que não quer dizer que prefira ser jornalista a qualquer outra profissão. Mas não deixo de ter a consciência de estar numa máquina centrifugadora de pessoas que, em muitos casos, cerceiam as suas vidas pessoais apenas por uma cacha.
É por isso que gosto dos blogues. Dão-me a liberdade de vomitar uma conjunto de bestialidades (palavra que tanto deriva de besta como de bestial) anódinas.
PS: Apesar de tudo, também quero beber um copo contigo. Também estou apaixonado e sou mais bonito que o Vostradeis
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