quarta-feira, julho 23, 2003

Sobre os calções. as mini-saias

Tenho, desde há uns anos a esta parte, uma preocupação interior que aumenta em cada Verão que passa. Com a queda das roupas (fenómeno que, como todos os homens sabem, sucede na Primavera, com os dias de maior calor. Um pouco à semelhança com o que acontece nas folhas das árvores, no Outono), nota-se uma tendência de moda que cerceia a imaginação e limita o sonho.
Falo dos calções que conquistam, em passos largos, o mercado nacional às mini-saias, transformando a paisagem feminina num palco de cabaret, sem espaço para a imaginação.
Passo a explicar: ao contrário das mini-saias, os calções não nos permitem sonhar com uma queda, uma subida de escadas ou um arquear de ancas. Os calções têm um limite intransponível que não nos permite mais do que adivinhar o rebordo da cueca (fio dental como a Sandra Felgueiras, ou nem por isso).
Quando são curtos demais (quase cueca de gola alta, ou nem isso) parecem um daqueles filmes pornográficos baratos em que elas estão todas nuas logo de início, numa total poupança de guarda-roupa. Nesse sentido, os calções são pornográficos e as mini-saias (ou as saudosas saias compridas com racha até ao pescoço) são extremamente eróticas.
As mini-saias permitem um homem sonhar com algo mais. Nem que seja um cruzar de pernas, deixando entrever o último reduto daquele pormenor delicado da intimidade (sim, estou a falar daquilo que vocês, seus devassos, estão a pensar). Nos calções, perdeu-se essa magia e fica apenas o escancarar do possível, ignorando o desejo do impossível.
Neste meu post (se calhar um dos mais sinceros que escrevi), faço um apelo sincero às mulheres para que queimem os calções em praça pública, como os nazis fizeram com os livros proscritos, e regressem, orgulhosas, aos cintos largos e curtos pelos quais Mary Quant tanto lutou.

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