Sobre o jornalismo de investigação: um contributo
É fácil dizê-lo, o que não quer dizer que a premissa é mentira. Em Portugal investiga-se pouco, em todos os níveis do saber, e porque é que o jornalismo há-de ser excepção? Na voragem dos dias, a memória perde-se e sem memória não há investigação. O que há são fontes, sempre interessadas e solícitas como hienas à espera de devorar os restos. Quando a amizade e o interesse das fontes vale mais do que a notícia mais vale mudar de profissão. E muitos há em Portugal que deviam fazer outra coisa qualquer que não jornalismo (vender roupa ou servir casamentos, por exemplo).
Isto não quer dizer que abomine as fontes mas elas só o são porque nós somos jornalistas. Valemos apenas pelo que escrevemos e onde escrevemos e não pela nossa linda cara ou pelas nossas grandes ideias peregrinas.
Voltando ao jornalismo de investigação, considero que isso é uma velha questão sem sentido.
Quando jornais como o DN têm apenas seis tipos que se recordam das Opções Inadiáveis e o grosso da coluna produtiva está entregue a quem pensa que o Ramalho Eanes era um tipo com um falar esquisito, casado com uma peruca que tinha um corpo agarrado, é natural que perguntas destas não façam sentido.
A somar a esta falta de memória existe a falta de dinheiro. Fazer investigação custa dinheiro, custa muito dinheiro. E isso é coisa que os media portugueses não têm. Viagens, quilómetros e salários para, em muitos casos, dar direito apenas a uma breve de canto de página. Sem falar nos riscos (sempre possíveis) de indemnizações aos visados.
Depois destas duas parcelas (memória e dinheiro), falta somente o tempo. Qual é o editor que admite ceder uma semana que seja a alguém (daqueles que trabalham e não dos que assinam peças), retirando-o dos comunicados diários, para o deixar a investigar uma história que nem existe garantia de dar notícia? Se houver algum jornal assim, candidato-me a estagiário: tenho carta de condução e estou disponível para satisfazer a secretária de redacção se mais ninguém quiser.
É muito giro falar sobre jornalismo de investigação mas isso não faz sentido para quem escreve caracteres a metro todos os dias, enlatados entre conferências de imprensa e manifestações encomendadas pelas televisões. Com as fontes que temos e as faltas existentes, o jornalismo de investigação resume-se a uns golfejos causados por dicas de ocasião ou a leituras de processos pendentes apenas porque o juiz quer que o nome apareça nos jornais ou o advogado precisa de publicidade gratuita.
Finalmente, estão as prima-donnas do jornalismo português. Aqueles que tudo sabem e tudo dizem, sem dizerem tudo. Falos dos Carlos Magnos SA, o pior que existe dos jornalistas (???) de fontes em Portugal que matam estórias em potências, transformando-as em diz que disse e em boatos
Todas as redacções têm o diz que diz-se e o seu boateiro que assassina, de forma despudorada, todas as tentativas de jornalismo de investigação sério.
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